ESPELHO

Descobre assustada

no outro lado

o reflexo

do rosto!

Lá a menina deu lugar à mulher!

Não brinca mais de boneca na calçada,

Carrega no ventre intumescido uma vida.

Kalachakra, a divina; a faz amadurecer.

O temor arranca as dores para abater

Na alma solitária, agora, envelhecida,

Fenece o instante da força criadora.

Escuta suas entranhas a ranger.

Descobre assustada

no outro lado

o reflexo

do rosto!

Rasga sua carne jovem a conceber!

No reflexo o seu corpo agoniza, geme,

Soluça, vomita do interior a esperança.

O desejo de ninar nos braços o alvorecer.

No espelho sua imagem a contorcer!

Morre levando os segredos da criança,

O crepúsculo tem o poder nas mãos.

Perpetua nas rugas o sonho do prazer!