Árvore antiga

Dentro de mim existe uma árvore

muito mais antiga que eu...

Vive desde os meus antepassados

de quem trago traços atávicos...

Suas raízes são fortes na aparência,

mas nas profundezas, bem delgadas

e alimentam-me de aprendizados...

O tronco é meu brio, minha auto-estima,

e se lança para cima

buscando talvez, o céu...

Os galhos são tantos e de tal forma

buscam muitas direções,

porque sou multidericionada

com várias convicções,

pela vida apaixonada,

canto em versos sem convenções

o amor à forma e à beleza...

Incansavelmente me expando,

sempre algo mais buscando...

E as folhas são meus pulmões,

pois vivo clorofilando,

sem os verdes todos, não sei

se sobreveriam meus cantares...

Quando floresço, então,

transformo-me em alegria:

cantam cigarras e aves,

borboletas,dançam leves

em volta da florescência!

Ah, esqueci de contar

que escavada em meu tronco

está um nicho precioso:

nele mora uma coruja

que me ensina, paciente,

que até as árvores fortes

terão de morrer um dia...

Isso mostra-me a limitação

de minha essência mortal...

Mas sou poetisa e afinal

percebo transida de emoção

que essa árvore antiga

sou eu no meu todo dia

e que vivo, um a um,

meu rosário de magia...

clevane,em 21/09/2003escrevendo de Belo Horizonte, madrugada, não tão fria agora.Sou psicóloga, ilustradora e amo todas as árvores...