ANJO ERRANTE

Dirte-ei: Sou o anjo errante

Que nos vales da vida vagueia

Arrastando sua mesma sombra

Ao sabor das sombras alheias.

Com as mesmas asas dobradas

Em cruz sobre o peito arfante

Sigo pela noite anjo insone

Incapaz de prover um milagre

Ido de pouso em pouso

Algo delirante e exposto

À luz de uma lua sombria.

Vago tonto condenado eternamente

Nas hordas celestiais o meu nome

Não se fala este já defenestrado.

O Deus que me sentencia

A estar assim exilado

Estando ele tão ocupado

Quem sabe eu não te convido

A desfrutares comigo

Este encontro inusitado?

Imposto me foi não ter amor

Que seja vitimado a viver sozinho

E nem sequer me permitem

Encontrar para o corpo o repouso.

Mas se quiserdes cear amiga

Sentemo-nos no prado verde.

Ainda tenho um naco de pão

Duas maçãs tão cheirosas

Uma botija de vinho

E de ancestral esta sede.

Ricardo S. Reis

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 01/03/2007
Reeditado em 08/05/2007
Código do texto: T397156