O Sopro
A vida é um sopro na venta, dilatado relance
que se exerce sem ciência de si e dos outros.
Tremor tênue de asa de vespa, de quironomidae
ou do pássaro do paraíso, com suas penas coloridas.
A vida é um vento que venta, errante.
E venta só porque é preciso.
E assim como o vento, não há vida diletante.
Toda vida faz sentido.
Mas há sim, a que se faz sopro ausente;
a que roça a fronte de um homem, tomado de amor;
e há a vida que reluz como um exato brilhante.
É preciso estar atento e forte.
Não temos tempo de temer a morte.
Pois um dia o sopro voa
como colibri furta-cor
que lépido e suavemente, entoa
do silencio, um sonido
para buscar o obscuro do limbo.
E o vento que ficar, sobrante
como a vida
irá soprar sem sentido.
Ricardo S. Reis