O Sopro

A vida é um sopro na venta, dilatado relance

que se exerce sem ciência de si e dos outros.

Tremor tênue de asa de vespa, de quironomidae

ou do pássaro do paraíso, com suas penas coloridas.

A vida é um vento que venta, errante.

E venta só porque é preciso.

E assim como o vento, não há vida diletante.

Toda vida faz sentido.

Mas há sim, a que se faz sopro ausente;

a que roça a fronte de um homem, tomado de amor;

e há a vida que reluz como um exato brilhante.

É preciso estar atento e forte.

Não temos tempo de temer a morte.

Pois um dia o sopro voa

como colibri furta-cor

que lépido e suavemente, entoa

do silencio, um sonido

para buscar o obscuro do limbo.

E o vento que ficar, sobrante

como a vida

irá soprar sem sentido.

Ricardo S. Reis

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 15/09/2007
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