Soneto do lago espectral
A Edgar Alan Poe
Extenuado, buscava o descanso, a paz e a meditação
Para obrar poemas em bucólico remanso, bem ermo da cidade.
Fui parar em terra (depois o soube) de ancestral assombração
Frente a qual pouca monta faria a urbana veleidade.
Já que ali me encontrava, melhor seria a prontidão
Deste meu torto espírito, nada afeito à deidade.
Ter em minha mente toda a luz, mero regalo vão.
O ceticismo é sem valia, mais que a crente simplicidade.
Reluziam em nevoa imersos, como em velhos pântanos da Escócia.
Eu, chegado a casa, no lago, miríades de insetos flamejantes.
Vi entes fantasmáticos; tambourilos secos ouvi e mais, silvos ciciantes.
A noite já ia densa quando os sapos alardeavam os encontros espectrais
Tanto que furtou-se-me o sono, pois em vigília, no frigir desta algazarra
O medo tão só me alentava o estar vivo na aurora, ademais.