Soneto do lago espectral

A Edgar Alan Poe

Extenuado, buscava o descanso, a paz e a meditação

Para obrar poemas em bucólico remanso, bem ermo da cidade.

Fui parar em terra (depois o soube) de ancestral assombração

Frente a qual pouca monta faria a urbana veleidade.

Já que ali me encontrava, melhor seria a prontidão

Deste meu torto espírito, nada afeito à deidade.

Ter em minha mente toda a luz, mero regalo vão.

O ceticismo é sem valia, mais que a crente simplicidade.

Reluziam em nevoa imersos, como em velhos pântanos da Escócia.

Eu, chegado a casa, no lago, miríades de insetos flamejantes.

Vi entes fantasmáticos; tambourilos secos ouvi e mais, silvos ciciantes.

A noite já ia densa quando os sapos alardeavam os encontros espectrais

Tanto que furtou-se-me o sono, pois em vigília, no frigir desta algazarra

O medo tão só me alentava o estar vivo na aurora, ademais.

RicardoSReis
Enviado por RicardoSReis em 30/11/2007
Código do texto: T758620