PÁLIDAS HORAS DESATENTAS

Há frações de momentos, em pálidas horas desatentas, que uma lucidez chega-me de súbito à consciência, e toda a minha vida é um véu caído. Nestes segundos de abstração, vejo a mim como uma alma alheia me contemplaria, e uma comiseração chega-me à alma como sentimento impropriamente dolorido.

A natureza deste reflexo, onde o passado é entrevisto, bate-se na estreiteza de minha compreensão, e como um tolo que se vê em um espelho, tenho a imagem inutilmente contemplada num todo além dos sentidos que não seja o sentir! De que adianta a alma que emerge à pele da consciência, se sentir é diferente de interpretar, pergunto-me...

Do que adianta, expectador de mim, este cenário relâmpago, se atuo com timidez ante o desnudar de minhas fraquezas? Se minha falibilidade arde no plano imperfeito de meu ser? Saber-me matéria ou Espírito e revisitar lembranças pouco me exulta. Dói sim minha humanidade ainda vulgar, como o viajante esfarrapado que sabe-se distante do Além em que deve compreender-se, e ainda assim pára a meio-caminho das inutilidades e das vicissitudes...

É neste panorama célere, onde o Universo é entrevisto nos desvãos de minha memória, que intuo o quão ainda há por aprender até que deixe a condição humana falível, e transforme o caminhar em Conhecimento.

De todas as sensações que me percorrem nestes breves momentos, fica a da figura de uma criança, que traz às mãos atrapalhadas os brinquedos da evolução infinita. E o mundo é um grande móbile, girando nas praças públicas da imortalidade, no carrossel de Ser sem fim.