AS BORBOLETAS

"Nestas claras manhãs de firmamento escampo,

De ar mais puro e de sol mais livremente aberto,

Qual mais linda, elas vêm, ora atrás do campo,

Ora em trêmulo enxame através do deserto,

Como ao vento esparzido um punhado de flores,

Buscar ao pé do rio as boninas singelas,

E entrecruzar-se à luz com as variadas cores,

Brancas, verdes, azuis, rajadas e amarelas.

Presa por muitos anos, a borboleta azul, um dia se vê livre e flanando por sobre as águas turvas do rio caudaloso, se deixa levar pelo vento e as flores róseas a acompanham no corredor de árvores floridas. A luz ofusca os olhos da borboletinha, ziguezagueando, lá vai ela, colorindo o azul do firmamento, até se enroscar no cálice de uma flor, e se lambuzar do néctar abundante.

Num ligeiro rumor indistinto, cortando

O ar, de aromas que vêm das plantas saturado,

Vejo às vezes passar o fugitivo bando,

Várzea ao longe, pairando em vôo prolongado.

Umas rente lá vão à crômula das folhas,

Outras voam mais alto, asas fechando e abrindo:

Outras lá vão do rio acompanhando as bolhas,

A água, a pena erradia e as espumas seguindo...

Livre a borboleta encontra outras fugidias, e voam por sobre flores, jardins, casas, prédios, engalanando os parques das cidades, e os homens olham surpresos, pois pensavam estar extintas essas belas borboletas, e lá se vão abrindo e fechando as asas, movidas, como que por encanto, já a borboletinha voa cada vez mais alto, acima do bando, mostrando asas azuis e transparentes.

Até que em meio de um vale onde a corrente brame

E revolta borbulha e rodopia inquieta,

Em suspensa coluna, o selvático enxame

Baila e treme do sol à carícia secreta... " Alberto de Oliveira

Nem mesmo o sabiá com o seu gorjear afinado assusta a borboleta, e, assim a sonhada liberdade invade toda sua vida resgatando os seus sentidos outrora adormecidos, escondidos, camuflados pelo medo de ter as asas presas, alfinetadas por algum menino malvado. Voa “Butterfly”, pois encontrou a tão sonhada liberdade. Ana Marly de OLiveira Jacobino