CHEIRO DE INFÂNCIA

Cheiro úmido de chuva molhada me pega de surpresa trazendo reencontros do antes vivido. A terra encharcada adocica o olfato que vagueia pela infância de moleca do mato. Mato amassado pelas plantas finas dos pés descalços que sulcam o barro vermelho amolecido.

Da calha imperial envelhecida, cachoeira de chuva gelada massageia o corpo da infância encantada. Encantada por fadas, sacis e curupiras reunidos, à noite, na varanda e deitados na rede que balança o imaginário.

Encarcerada no lampião a chama grita a vontade de romper a cela vítrea que ilumina os fantasmas que valsam pela varanda. Fantasmas que surgem para entrelaçar suas mãos com as da nossa infância repleta de lendas, crendices e castelos prateados.

O coador de pano deita o cheiro de café ainda há pouco torrado em canecas de barro que, em ciranda, cercam o queijo coalho e o bolo de fubá adocicado.

O ranger do assoalho encerado sustenta nossos corpos cansados de felicidade infantil. Felicidade ingênua que embala o sono que busca o leito vestido de cobertas quentinhas cheirando a naftalina. Sono que vai sonhar com o novo dia que explodirá em vida, nas pétalas das verdes dormideiras enfeitadas de brincos de carmim. Ai, que saudade de mim....