AVE CARTOLA !

Meu sábado amanheceu preguiçoso, manhoso, com o corpo cansado, mas feliz. Feliz porque nasceu do ventre de uma madrugada festiva que cantou cem anos do Mestre Cartola. Noite de samba genuíno, de raiz, malandro e poeta cuidadoso no jogo de palavras. Noite de fria primavera aquecida pelo remelexo do corpo que acordou suado de tanto sacudir.

O cenário – um misto de bar, restaurante, casa de show e antiquário. Nas paredes, caricaturas de mestres do samba em carvão emolduravam escultura naif da deusa Clara Nunes devidamente reverenciada por imensa bandeira do Brasil.

“Coisas da Antiga”, o nome da casa que abriga as noites prenhas de sextas parideiras de madrugadas inesquecíveis de sábados sambistas. Sábados que misturam seres ecléticos que vão chegando, pouco a pouco, timidamente, mas que, de repente, explodem em pura música.

Sobre a mesa central deita-se a toalha musical tecida pela flauta transversa, pelo cavaquinho, pelo bandolim, pelo violão e bordada pelo chocalho e agogô. Mas, não pensem que é só isso: ao soar dos acordes mágicos da “buarqueana” “Meu guri”, do nada, surge da platéia um violino que transforma a madrugada em orquestra do mais puro som. Clássico e popular miscigenam-se, fundem-se em musicalidade verde-amarela-de-ser e cantam que o mundo é um moinho cercado pelas rosas que não falam só de dor, mas também de amor. Ave Cartola!