Um momento que não se encaixa no próximo

O sapo canta na lagoa

Eu passo na boa

Não engulo mosquito

Não grito aflito

Na falo mais tanto

Não faço festa por qualquer data

Veja a vida pela fresta

E ponto.

Organizo-me por dentro

Ponho ordem nos pensamentos

Faço um resumo

Uma entrevista comigo mesmo

E vejo que tenho conteúdo

Contido

Muitos pontos que sangram

Veias abertas

Ainda

Continuou com medo de avião

De pegar em qualquer mão

Acho que tudo nos trai ou trairá

O que sobe, desce

Quiça pouse

De qualquer forma

É bom não ficar no ponto

No aeroporto

Esperar sentado

Pra não se decepcionar

Quem nada lembra

Um dia te esquece por aí

É certo

A memória é o que fica

A priori é o que vale

Resumo dos nossos dias

Amor dado é amor ido

Não tem cobrança

Não dá troco nem presente

A ausência

É o começo da saudade

Os filhos crescem

E pensam que não precisam de ninguém

Eu é que sei

Só com meus aís

E me queixo e choro pelos meus país idos

Neste momento

Ninguém é bom visto de perto

Há certos lances duvidosos

Nuances

E mesquinhariazinhas pequenas

Que sempre crescem

No cerne das melhores famílias

O fruto que apodrece

A linha que não tece

Tudo o que não acontece

É também fato

A árvore cortada antes da primavera

É tudo esquisito, eu sei

Não é poema

Não é conto

Não é queixa

É só um instante

Um movimento que não se encaixa

É um racha na unidade

Um desdobramento

Esse momento...

Um momento que não se encaixa no próximo.