ODE AOS TEMPOS DE GUERRA
* * *
As armas fazem-se ouvir uma vez mais, lá para os lados da Terra Santa.
Ora, deixem-se de palavreados!...
Será que Terra Santa não é toda a Terra?...
E já houve algum instante em que não fossem esgrimidas armas?...
Já houve algum dia que os homens não estivessem em guerra?...
Luta-se pela comida, pela água, pela mulher alheia!...
Luta-se pelo petróleo, pelo ouro, pelo poder!...
Luta-se pelos sonhos, pelo território, pela Fé!...
Mas qual Fé, ímpios?!... Agora a Fé manda matar?!...
Mas quais sonhos?!... Os teus sonhos, não podem tornar-se os pesadelos alheios!...
Mas qual território?!... A terra não é tua!... Tu é que pertences à Terra!
Exige-se – sim – dignidade para todos os seres humanos!
O sangue que ensopa as areias ensombra muitas consciências que se dizem limpas.
Um dia o teu corpo irá ser pasto de vermes e a tua alma há-de vaguear nas entranhas da Terra...
Dessa Terra que tentaste usurpar ao teu irmão.
Não te bastam as provações da Vida e ainda transportas para aqui o Inferno!
Não queiras o Inferno para ti!
Não queiras o Inferno para o teu semelhante!
Deus não colocou nas tuas mãos dois pesos e duas medidas.
Leva essas mãos à consciência e olha bem os passos que vais dar pois ninguém precisa de desenterrar as tenebrosas cruzes do passado.
Aprende com os erros que outros já testemunharam, viveram e choraram.
Não podes mudar o curso à História, mas farás História com com os passos que vais dar...
... Quer sejam passos seguros ou esses sujos que insistes em trilhar.
E eu não quero saber das tuas razões!...
As tuas razões usam o medo como estandarte e têm desfraldadas as cores do ódio.
As tuas mãos têm entranhadas os odores de pólvora e do sangue dos moribundos.
As minhas mãos tremem de fúria, de raiva e de frustração quando escrevo estas palavras.
E antes que as palavras fiquem ilegíveis, direi apenas...
- Ah! Deus fez-nos tão fortes mas tão insensatos!
* * *
in POEMAS SOMBRIOS
de NelSon Brio