Escrevo como quem ama o desacerto

escrevo como quem ama o desacerto desensina o ensinamento reflexiona o sexo anexa o impreciso

escrevo como quem ama o riso o imprevisto o inciso e recolho todos os chãos todos os passos do desvio

escrito está o muro o pergaminho o mandamento de judas as juras e as maldições escrevo no vento no virtual jogo versos no ventilador e a minha dor vai a leilão

como quem prega prego no deserto jogo areia nos olhos do vento me lanço neste universo e ainda quero o conexo com outros diversos doidos como eu

falo de sexo e de vida de dívida com dúvida e me divido em dois ou mais e disso concluo que nada é conclusivo e que só há um continuo movimento um vento que assopra-nos no verso e anverso de nós mesmos

escrevo recluso na minha mais ampla liberdade e vou fazendo uma história desimportante à margem do status e de saudade do presente e de medo e ânsia do futuro que já o penetro neste instante

escrevo como quem bota fogo nas vestes como quem se reveste de pele e puro pêlo como quem desenha rupreste na caverna na web

escrevo do futuro do pretérito e do passado do preterido e proclamo aos quatro cantos: o brasil está duro no desemprego no desalinho no desassossego na pasmaceira da roubalheira

não sou negro nem branco nem mulato e piso no braseiro da fé da fome faço não peço arrêgo pra governo corrupto que corresponde bem ao gosto brasileiro

e disso tudo: da tinta dos jornais da migalha da literatura dos suor das ruas... vou recolhendo as letras amarrando-as com arame e vísceras, untando sangue e gente e nesse cosmo de caos de mantras e mentes faço meu discurso torto tosco... sou mesmo um poeta meia boca pretensioso