Pessoas

Pessoas

*virgínia além mar

(Marabá *não está só em seu lamento)

nem sábia

nem santa

nem profana o suficiente

se na carne um só sangue

mestiça sua mente

brava faceira

mulata de alma

nem feminista

tampouco

cordata com injustiça

livre o bastante

para

submissa não ser

mulher

nova

mulher

lançada ao mar ...

estrangeiras

naufragadas ainda em brumas

algumas

nostalgia da terra dos ancestrais

dos prazeres aristocráticos

algumas ...

E as doces palavras que eu tinha cá dentro

a quem nas direi? *

onde está o homem

forte e nobre

que esteja ao teu alcance ?

Perdido

em ilhas de preconceitos

entre o verbo

a lei

e o defeito

desconhece ainda

iguais direitos

também chora

em busca de identidade

estrangeiros

se criado por

guerreiras

cora diante a nova mulher

dizem alguns de novos comportamento

agressivo-passivo=agressivo

obsessivo

carente

lascivo

impotente

d e p r i m i d o...

E as doces palavras que eu tinha cá dentro

a quem nas direi? *

perdido entre o que foi e o que será

o que deveria ter sido ...

se criado pela antiga

não encontra uma igual querida

encrespam seus olhos

cingem seus pensamentos

as cores da terra

corta-lhes a face

vento

quem sois ?

humanos demasiadamente

humanos

com poucas referências

não hás de lamentar

a liberdade

seu peso

escolher a própria identidade

torna-se pessoa nem homem ou mulher

nem cisne ou flor

nada sois

tudo é fermento ...

a indefinição assusta ?

aos devires lançados

quem haverá por seus cuidados ?

marcados de chumbo e pena estais

deixem-se tocar

amanheçam, um sol os espera !

virgínia além mar - ao som das ondas e ao sabor do vento

sob as carícias do amanhecer no mar

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Marabá =

*Antônio Gonçalves Dias

Eu vivo sozinha, ninguém me procura!

Acaso feitura

Não sou de Tupá!

Se algum dentre os homens de mim não se esconde:

— "Tu és", me responde,

"Tu és Marabá!"

— Meus olhos são garços, são cor das safiras,

— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;

— Imitam as nuvens de um céu anilado,

— As cores imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:

"Teus olhos são garços",

Responde anojado, "mas és Marabá:

"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,

"Uns olhos fulgentes,

"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"

— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,

— Da cor das areias batidas do mar;

— As aves mais brancas, as conchas mais puras

— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.

Se ainda me escuta meus agros delírios:

— "És alva de lírios",

Sorrindo responde, "mas és Marabá:

"Quero antes um rosto de jambo corado,

"Um rosto crestado

"Do sol do deserto, não flor de cajá."

— Meu colo de leve se encurva engraçado,

— Como hástea pendente do cáctus em flor;

— Mimosa, indolente, resvalo no prado,

— Como um soluçado suspiro de amor! —

"Eu amo a estatura flexível, ligeira,

Qual duma palmeira",

Então me respondem; "tu és Marabá:

"Quero antes o colo da ema orgulhosa,

Que pisa vaidosa,

"Que as flóreas campinas governa, onde está."

— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,

— O oiro mais puro não tem seu fulgor;

— As brisas nos bosques de os ver se enamoram

— De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,

"São loiros, são belos,

"Mas são anelados; tu és Marabá:

"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,

"Cabelos compridos,

"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá,"

————

*E as doces palavras que eu tinha cá dentro

A quem nas direi?

O ramo d'acácia na fronte de um homem

Jamais cingirei:

Jamais um guerreiro da minha arazóia

Me desprenderá:

Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,

Que sou Marabá!

*Marabá termo indígena significa filho do prisioneiro ou estrangeiro ou ainda, fruto da índia com o branco, mestiço

No Poema Marabá está triste lameta apesar de toda sua beleza é discriminada perdida está sua identidade, nem índia nem europeia, mestiça é rejeitada ...

Antônio Gonçalves Dias Poeta maranhense (1823-1864). Fundador da corrente indianista na poesia, é um dos maiores autores românticos brasileiro. Nasce em Boa Vista, filho de um comerciante português e de uma mestiça. Estuda em São Luís e forma-se na Universidade de Coimbra, em Lisboa, em 1845. De volta ao Brasil, muda-se para o Rio de Janeiro no ano seguinte, onde leciona Latim e História no Colégio Pedro II. Viaja para a Europa em 1854. Em 1857, uma coletânea de toda sua obra poética, Cantos, é publicada na Alemanha. De volta ao Brasil, chefia a seção de Etnografia da Secretaria de Negócios do Interior e viaja pelo Norte do país, até o Peru. Vai novamente à Europa em 1862, para tratar de problemas de saúde. Retorna dois anos depois no navio francês Ville de Boulogne, que naufraga no litoral maranhense. É o único a morrer no naufrágio. Entre sua obra publicada destacam-se Primeiros Cantos (1847), que inclui a Canção do Exílio, Segundos Cantos (1848) e Últimos Cantos (1851).

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Dica ler o trabalho Gonçalves Dias e os “párias” luso-americanos- 08 por rafnir

http://rafnir.wordpress.com/2008/08/12/goncalves-dias-e-os-parias-luso-americanos/

virgínia vicamf
Enviado por virgínia vicamf em 08/02/2009
Reeditado em 08/02/2009
Código do texto: T1427855
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