arco-íris derramado, cores misturadas, destroços organizados e nuvens distorcidas
todas as letras derramadas em loas de amor e sexo flecharam o coração de cortiça em vão - nem sangue, nem sentimento brotaram – tudo o que é pouco foi mais valioso e transbordou, transtornou em ventania.
todos os encontros prometidos, preteridos, todos os dedos no vão metidos, mentiras, todos os enredos e viagens, as canções feitas - tudo tango, samba-canção, leros de outro tempo, perdidos no presente, sem aroma.
tudo isso é apenas presente-passado, margem, porto que dista, ao longe a cidade em seu brilho inoxidável, suas luzes de neon ficam no retrovisor do dia, numa ilha que fica menor a cada braçada, a cada olhar.
todos os oceanos singrados pela poesia, magia, todas as fantasias ficaram na realidade do papel, borrados, manchados de sangue e café, amarelos, sem verniz, poeira, poeiras.
e a inspiração, ah! inspiração, ela é como tesão, tem seu momento de pico, mas causa estrago eterno, padecimento, infernos – e daí as tantas confusões, tantos livros, tantos poemas, romances, épicos, guerras, loucuras, suicídios, homicídios, quanta bobagem para fugir da solidão, que é tão boa, tão lua, tão minha, até certo ponto, sob certa visão.
o repique bom do sexo pela manhã, todo dia, alegria do sol na pele, quintal, era como uma viagem contínua, bonança, dança da chuva, fogueira, raio e tempestade, água que é boa, que é deus-deusas sempre cai, sempre vai aos mais recônditos lugares.
enfim, porto - porta aberta para corações apunhalados, mar de abismos e léguas profundas à frente – fica a deriva, de pois da curva, da ponte, do pote de ouro do arco-íris derramado, cores misturadas para se pintar um horizonte azul e nuvens decorativas se puder e nelas nevegar.
arco-íris derramado, cores misturadas, destroços organizados e nuvens distorcidas, poemas...