Letra no chão

Num chão bruto e carregado

Nasceu uma letra.

Uma letra suja, sem estrutura.

Passavam automóveis, bicicletas,

Mas ninguém viu que ali

Brotara uma letra.

– Como uma letra brotou no chão?...

Chão este robusto, asfaltado! –

Como pode uma letra viajar

Mundos tão diferentes e parar aqui,

Num solo grotesco,

Onde não há nenhum nutriente

Para fortificá-la?...

– Como ela sobreviveu? –

Contudo, eu vi, está lá!

Uma letra brotada feito rosa,

No chão.

A letra ainda é muito jovem,

Nasceu há pouco tempo,

No entanto já conhece as marcas

De nosso mundo pós-moderno.

Ela parece ser fraca, frágil, debilitada,

Sua roupagem acinzentada,

Sua expressão... Delicada.

Parece-me esconder alguma coisa,

Algum mistério...

Sua força, talvez,

Pois ela nasceu em um lugar

Extremamente inóspito.

Seu recado perante o mundo

Aparenta ser o da persistência.

Suas entrelinhas não dizem com perfeição

Se é coeso o seu discurso.

O contexto em que nascera

Foi totalmente esdrúxulo...

Nasceu por entre pedras!

Sua forma feia, desajustada, incompleta,

Nos faz perceber que existe

Algo além do belo,

E que há muita beleza na feiúra.

A letra não tem nenhum nome,

Raça ou religião.

Nunca jamais, houve algo parecido,

Ou qualquer indício dela na terra.

Sua delicadeza é de tamanha medida.

Seus encantos inquietam quaisquer olhares.

Sua beleza – mesmo sendo feia –

É admirável.

Sua coragem é portanto inabalável.

A letra atravessou o papel,

Driblou as esquinas,

Correu de todos os sonhos

E se fez realidade.

Jamais deixem que essa proeza morra,

Pois ela carrega consigo

A esperança de dias melhores.

Em suas raízes está o legado

Da multicuturalidade dos povos.

Em seu tronco está o revestimento

Do conhecimento universal.

E em sua folhagem

Estão todos os códigos

– Signos –

Que ultrapassam

Todo infinito da vida.

Grégori Augustus Reis
Enviado por Grégori Augustus Reis em 12/06/2009
Código do texto: T1645690
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