PERDAS DE INFÂNCIA

Recordo, quando ainda criança

Encantava-me o colorido das flores,

As cigarras, com seus sons estridentes,

O bailar dos vagalumes enfeitando a noite,

O pai, jovem e forte, voltando para casa,

A voz de minha mãe anunciando o jantar.

Havia em mim uma ternura natural

Que brotava em um manancial inesgotável.

Até que um dia batizei esta ternura

E Ingenuamente dei-lhe o nome “DE AMOR”.

Passei a procurar alguém que fosse capacitado

Que o merecesse e docemente pudesse recebê-lo...

Sobrevieram os sonhos, as ilusões, as fantasias,

Aprendi a ser desconfiado, atento aos gestos,

A estudar os olhares, das beldades que me rodeavam,

Se iriam acariciar, ou se falsos, atraiçoar-me.

Enchi-me de medos, passei a viver inquieto,

Adicionando a minha doçura, a vaidade e o egoísmo,

E o meu largo caminho estreitou-se, transformado,

Em um perigoso e profundo desfiladeiro

Onde só posso continuar em fila única.

Cerquei-me de pedras frias, achando-me protegido,

E ingeri esfomeadamente aquele pão!...

Temendo que algum dia me faltasse.

Na perda de minhas virtudes, comecei ansiosamente

A esperar da vida, a implorar por certos milagres,

Acreditando ser supérfluo o toque de carinho

E abdiquei das valiosas e sinceras amizades.

Esqueci do menino, brincando enternecido no jardim,

Que com pureza beijava as pétalas aveludadas das rosas.

Embora jovem! Em mim a seriedade dos adultos,

Em uma liturgia concentrada em tristezas,

Encerrado em um casulo, prisioneiro do passado,

Impossibilitado de sorrir, de ser completamente feliz

De meus dias, digiro o amargo, saudoso e decepcionado.

Elio Moreira
Enviado por Elio Moreira em 18/08/2009
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