SÚPLICAS DE UM ALCOÓLATRA

=Súplicas de um alcoólatra=

Fui de encontro à vida

Ferido... sem saída.

Disseram-me que, para viver,

Teria que crescer, ganhar muito dinheiro.

Procurei vários corretores

Mostraram-me muitos valores,

Fecharam as portas para mim.

Também pouco me importava

Eu nada tinha a perder!

A cada dia eu da vida me afastava.

Restava-me pouco ou quase nada.

Pedi a este Deus ausente, mesmo sem crer,

Que aliviasse minhas dores,

Que me fizesse dormir eternamente

eu não queria mais existir.

Sentia-me invisível para alguns, um entulho indesejado para outros.

Desprezei a todos, e pelo mundo fui ignorado.

Sentei no banco da praça

Meus olhos não podiam ou não queriam mais chorar.

Deus veio a mim em forma de criança,

Não me disse uma só palavra,

Apenas sorriu!

Meu coração que a outros sentimentos não mais conhecia,

Encheu-se de amor e esperança.

Sorrindo, Ele foi se afastando, deixando uma suave essência de amor e fé.

Procurei amigos, parentes, pedindo por socorro,

Disseram que meu caso era perdido, que ninguém dar-me-ia abrigo.

“Procure aos seus iguais”, recomendaram-me, “você não é nada e nunca será”.

Mesmo com os olhos em lágrimas, coração pulsante em esperança,

Lembrei-me que um dia alguém me dissera que “o nada é um ponto de partida,” e foi daí que tirei forças.

Corri pelas ruas, coração cheio de amor.

O sorriso da criança enfeitara a minh’alma.

A noite era chegada!

Nada, nada e nada na minha vida fora mudada.

Voltei para meu antigo abrigo, seria ali no banco, o meu habitat definitivo?

Meu coração dava lugar às dúvidas “e se aquele Deus era falso, se o seu sorriso fosse somente uma galhofa, que mais me restaria?”

Cheguei a pensar no auto-extermínio, mas a minha loucura não chegava a tanto ou, com certeza, Ele teria planos para minha vida.

Com a insanidade aflorada, cheguei à praça.

Por incrível que pareça meu coração batia forte, trazia em si, um fio de bons sentimentos.

Qual foi a minha surpresa ao chegar. Vi um senhor, cabelos grisalhos, sorriso fácil, que me disse com convicção “boa noite, amigo!”

Meu Deus, obrigado! Há quanto tempo não ouço carinho semelhante. Seria aquele o Deus do sorriso, que crescerá e criará juízo e por isso veio me visitar?

Eu lhe disse: “boa noite é para você, que tem para onde ir, que tem alguém para amar, ser amado, muitos a lhe esperar. Não para mim que vivo ao relento, abafo com álcool o sofrimento, desperto num fio de lembrança, num vazio atroz”.

Perguntei se ele era o Deus? Disse-me que não, mas que poderia ser, se assim eu desejasse. Seu nome era Omildo... Omildo Veloso.

Ele ofereceu-me a sua mão, contou-me a sua triste história, agora em glória, e poderia oferecer-me o alento, uma nova vida, trocar o velho pelo novo homem.

Perguntei como era possível. Ele sorrindo me disse que tudo começa pequeno, pela semente primeira da humildade. Falou-me que a humildade é o mais alto degrau da sabedoria, que o que mata o homem e sua alma, não são as drogas ou o álcool e sim, o orgulho. Falou-me que se quisermos ser ajudados é preciso ajudar, e me recitou um termo de compromisso:

“Quando qualquer um, seja onde for, estender a mão pedindo ajuda, quero que a minha mão esteja sempre ali e, por isso, eu sou responsável.”

Fiz Dele a minha esperança, conheci vários Eus pela vida. Não tenho mágoas, nem ressentimentos, sou feliz por ser como sou. Meu legado de amor eu faço jus. Hoje me tornei graças a vocês, aprendiz de poeta. Ao meu “tudo” Omildo que hoje vive no plano celestial, o meu muito obrigado.

Tonho Tavares

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 28/08/2009
Código do texto: T1779567