Mal clareia o dia e já se ouve o som da viola a irromper pela quietude do campo com notas em acalanto. Ele abraça-a como se fizesse carinho ao seu amor, que há muito se foi para o descanso eterno. Ali rigorosamente, todos os fins de semana há esta homenagem à pessoa que ele amou e com quem fazia isso nas manhãs domingueiras. Enquanto dedilhava as canções, ela o acompanhava num canto baixinho e tímido, mas cheio de carinho. Notava-se ali o verdadeiro amor e integração total num casal, que mesmo após muitos anos, ainda era unido e tinha na música um ponto em comum. Admirei-os sempre e ali muitas vezes fiz parte da canção deles.
Agora passado o tempo ele conserva ainda o mesmo ritual
e ali ao pé do jardim, entre as plantas e borboletas, a música se faz, sempre no mesmo horário, em prece à musa que partiu. Ontem a canção foi "Deus e eu no sertão", uma das atuais de Vitor e Léo e magistralmente foi executada. Creio que Ana, minha tia, dançou e cantou com essa canção,  lá em meio aos anjos onde deve estar e vi que meu tio, apesar da idade tem nos olhos saudosos e cansados,  um brilho de amor, que serve de exemplo a muitos jovens desiludidos de hoje. O tempo passou, mas ali mora um coração que ama ainda e guarda lindamente este amor  homenageandoo, cantando e tocando sempre como fazia. Basta apenas uma canção e depois o silencio o toma. Levanta-se  e segue o rumo do dia em paz, como se ela com ele caminhasse. Creio que ali está mesmo a imagem que apenas ele consegue ver, pois tatuou-a eternamente no coração.

Música é o som da alma
faz sonhar o impossível
traz lembranças do que foi
e do que poderia ter sido



21/09/09  **Marilda** (lavienrose)
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A CANÇÃO DE UMA SAUDADE

Interagindo na prosa poética de Lavienrose

Uma canção saudando o amor ausente,
na voz de quem confia em ser ouvido
talvez pela saudade ou, simplesmente,
por quem partiu sem nunca haver partido.

Uma canção do ser sobrevivente,
da viuvez a parecer gemido!
Volita ao vento o vozerio ardente
de quem não quer, jamais, ser esquecido.

Unidos, pela vida, até a morte,
pertences da paixão - um bem comum,
que o futuro faria ser mais forte!

Uma voz canta, sem retorno algum.
De quem a mão que desferiu o corte
de uma vida de dois, deixando um?

Odir, com aplausos, de passagem


**Obrigada ao poeta Oklima pela interação que abrilhantou a página.**

Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 21/09/2009
Reeditado em 16/11/2013
Código do texto: T1822384
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