OH DEUS!... QUANDO ROLARÁ OUTRA LÁGRIMA?

A padre Ramos, Portugal. Dedico.

Oh Deus!

Por onde andarás que não te achamos;

Quando em estado de súbita desventura

Suplicamos a tua justiça?

Por onde vagas que não te vemos,

Quando em corpo esfaimado de dúvidas

Lutamos contra o mau tempo?

Vede quanto a terra sofre

E vede também o quanto é triste ver o homem

Padecer de frio, dor, fome e solidão!

Por que meu Deus,

Nascemos criaturas cegas,

Já que sequer podemos a tua face desvendar

E muito menos morrermos imersos em lânguida ilusão?

Por que meu Deus guerras são criadas

E endemias são autorizadas a destruir

As nossas vidas e a esconder os crime de nossas mãos?

É o caso de perguntar-te:

Não seria ideal, meu Deus,

Que o homem vivesse num circo de felicidade

E não num pântano de incontidas lágrimas de desigualdades?

Dizei-nos enfim

Quando chegará o dia em que a terra e o homem viverão

Sob bodas de eterna afeição?

Nós sabemos e vós que é Deus também sabeis que

A Onisciência vem de ti - e não nos pertence!

Que a Onipresença está em ti - e não nos pertence!

Que a Onipotência cabe em ti - e não nos pertence!

Existirá fome de guerras, fome de terras,

Terras sem guerras, sem fomes e beija-flores sem codinomes?

Quem meu Deus, impiedosamente,

Nos impôs tal desvelo que é morrer

Para viver-se no lodo da fome

Que se agiganta no ávido coração da terra

Alimenta-se do cerne da ganância

E se apaixona pela dor de quem sofre o desprezo da vida,

Impedindo-nos da livre mansidão?

Oh meu Deus, existem guerras e cabem fomes,

Existem santos e sobram homens,

Mas o quê nos virá depois que a nuvens escuras

Baixarem fogo e espada sob o traseiro da terra?

Quem virá desprender-nos dos laços do passarinheiro?

Quem virá desligar-nos dos tubos da ignorância?

Quem virá proteger-nos da chuva da prepotência

O quê nos caberá depois que a vida acabar com as tsunamis,

Com os terremotos, maremotos,

Fomes diárias, proliferação da Aids,

Com a vida de milhões de miseráveis?

Não seria o sofrimento uma fria utopia que os poetas

Desdizendo da fome - o inventaram?

Não seria o sofrimento um triste galardão que os santos

Desdizendo das dores – o inventaram?

Não seria o sofrimento um ávido brocardo que os anjos

Desdizendo da vida – o inventaram?

Por que na terra o homem sofre

Se a ele é reservada nos altos céus

A chave da mansão dos ricos?

Seria a riqueza uma certeza comestível

Ou um alimento temporal?

Seria a miséria uma vibração inteligível

Ou uma consagração irreal?

Dizei-nos enfim,

Quando chegará o dia em que a fome e o homem viverão

Sob núpcias de eterna paixão?

Nós sabemos e vós que é Deus também sabeis que,

A compaixão vem de ti - e não nos pertence!

Que a misericórdia está em ti - e não nos pertence!

Que o perdão cabe em ti - e não nos pertence!

Assim sendo, meus Deus,

Aonde erramos – se é que erramos?

Mas se ainda continuamos errando,

Então perdoai-nos, alimentai os bolsões famintos,

Derrotai guerras, dores e injustiças;

Ponde o amor no coração do novo homem.

Pois se não me falha a memória

Derramaste uma lágrima no filme de Mel Gibson,

E cabe, por fim, perguntar-te:

Oh Deus!... Quando rolará outra lágrima?

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 05/07/2006
Reeditado em 12/07/2006
Código do texto: T188261