O diabo tudo mistura, deus junta os iguais

Detesto o determinismo de tudo, de depender de salário, de trabalho, de salafrários, às vezes. De que fazer tudo certo não é viável, que há viés pelo caminho, canalhas, que se corta estrada, quase sempre quem saiu atrás chega na frente, se tiver quem facilite.

Sei que tudo depende de punhais, de anéis e de traições, e não falo de amores, que isto é normal, cotidiano, falo da insinceridade dos amigos, as tramas, as transas escusas, sei que é assim, mas dói um pouco, e que o que prevalece quase sempre são interesses nem sempre detectáveis.

É certo que tudo é determinado na planilha do executivo, na mente furtiva dos calabares, no plano insano dos maquiáveis, mas que há viés também neste caminho, e que as pessoas são eletricidades, excentricidades, que dão choque e ao se tocarem e podem explodir por dentro, ter calafrios, assim como uma flor nasce na noite e exala seu perfume, e se vai sem que ninguém a veja, morre, mas mesmo assim modifica algum sentido o assunto de quem passa, rumos, mundos.

A individualidade é a maior riqueza, a fé, a decisão, o que se faz ou o que não se dá, o impulso e a reação ao atos. Fazer o que não se pensa e não fazer o que lhe mandaram pode ser uma saída. Fechar-se em si, meditar, cortar os pulsos, ficar com soluço por dias até que passe, arrefeça, desaqueça os ódios? Sei lá, organizar o caos, flutuar sobre a carniça, talvez? Essa cidade cheira mal, as pessoas tem mal hálito e se falam de perto, sentam perto, tramam, se transam, juntam seus cheiros e sujeiras. E chamam isso de relacionamento, de viver a vida....

Ser realista é sempre dolorido, rasgar o véu, espalhar a neblima que ofusca-nos é tema de loucura eu sei, e já quase sucumbi a tanta realidade. Mas sei, pedra é pedra, gente é gente, bicho é bicho. São coisas diferentes. O diabo mistura tudo, Deus, quem fez, reajunta os iguais e os cimenta. É assim: óleo é óleo, água é água.