Brecha para na parede do invisível

Há pessoas amigas em roupas entranhas, andrajos, seres que nos cutucam com agudeza; há inimigos próximos, bem-vistos, trajados com cores, aparências.

As coisas são assim, são sim e não juntas. Por dentro é que se vê o que se é, mas como ver isso, se os olhos não alcançam, com qual inteligência captar o real.

Na minha vida sempre foi assim, sou um tipo de imã de obstáculos, nada vem completo, nada é reto, tudo tem reentrâncias, detalhes, entalhes imperceptíveis.

Há sempre quem ponha armadilhas, lobos no caminho, invisíveis, se escondem no obscuro. Os muros são reais e assim foi e assim é, anjos negros com quem luto.

Por outro lado sei, sinto, vejo que, em algum momento, um botão foi apertado dentro de mim e esse toque me acendeu uma lâmpada e isso me ensinou a resistir.

Algo me faz ver, talvez o nome seja Deus, sim, sou místico, mas não conto a ninguém. Há anjos protetores acima destes pequenos seres cavernosos, alguns engravatados até.

Estes nada dizem, ouvem as maledicências todas de outrens e apenas pairam, param os passos no caminho, dão tempo para que a batalha se trave. Lutar sempre, sem medo.

Embora tenha que provar o tempo todo que eu sou eu mesmo, assim como outros vão para o precipício. Fico as vezes vendo com clareza a hierarquia de anjos protetores.

A briga é feia e ela se dá todos os dias nos planos diversos. O mundo é muito mais complexo que o que vemos, as vezes abrem-se brechas. Se é que me entendem?