MEMÓRIA COTIDIANA

É mais um dia comum.
Rotina vestida de inverno, agasalhada pelo cachecol tecido em fios amarrados pelos nós das dificuldades da maturidade.
O ônibus embala o corpo na cadência ritmada pelo bailar de mais um engarrafamento preguiçoso, sonolento, lento no abraçar o destino a alcançar.
Fones de ouvido sussuram mpb que emudece o som do trânsito sufocado pela fumaça mecânica.
Olhos sorridentes captam, parabolicamente, o passeio da janela pelos pedestres encapotados pela manhã fria.
Em cada rosto, uma lembrança, um lampejo que ilumina a memória vivida.
Pequena-cidade-grande deixa deslizar por suas veias os passos daqueles que escreveram, desenharam mais de meio século biograficamente compartilhados.
Corpos meio curvados, mãos sulcadas pelo tempo alinham o que ainda resta dos cabelos pintados pelo tempo e desalinhados pelo vento frio.
Rostos conhecidos, nomes lembrados, sem hesitação, ainda que embaçados, esfumaçados pela memória dos anos dançados, cantados, beijados, amados e plenamente vividos. E como.....




Foto: Maria Eduarda de Mello Freitas Reis