Invisível
o mendigo
velho
atravessa lentamente
à minha frente
alheio às regras
ao semáforo adverso
à família
e tradição
à pátria patrão nação
sem noção de tudo
carrega sua dor
mudo
sua mágoa profunda.
o mendigo
antigo
não oferece perigo
não esboça qualquer reação
diante das buzinas
dos motores nervosos
e a pressa
não lhe diz respeito
ele não faz apelo
não pede comida
socorro
nem olha no olho
de ninguém
mas vejo com clareza
que tem dignidade
de montão
matéria prima em falta
nos palácios
e em muito cidadão
o mendigo
velho e talvez doente
isola-se no abandono
e desprezo do governo
e seus departamentos
ele não faz parte
da Receita
de seita
religião
dos planos de expansão econômica
não faz parte da preocupação
da cidade
ele não questiona porque não há amparo legal
a quem chega nessa idade
na adversidade
sem nada