CAIXINHA DE SEGREDOS

Abri a caixinha de segredos que havia sobre a mesa da sala. Ecoaram canções sublimes que encheram o ambiente com energia positiva.

Através da fresta da janela penetrou um raio do sol que ao bater no cristal do lampião partiu-se em colorido espectro prismático salpicando de tons e entretons as brancas paredes transformando-as em cenário festivo e primaveril, tal qual um jardim florido e multicolor.

Debrucei-me a pensar a vida e analisar meus segredos extraídos daquela caixinha que há tanto os abrigava intactos. Quase transformados em tabus. Fazia tanto tempo que ali estavam guardados que até nem lembrei muitos que encontrei. Não imaginava que os segredos que ali guardei por tanto tempo já não possuíam o mesmo peso de importância que lhes atribuíra. Já não eram mais segredos... A vida passara e os transformara em coisas comuns e banais. O tempo determinara que fosse assim e passei a verificar um a um e a cada instante descobria que minha caixinha de segredos havia se transmutado em “caixinha de surpresas” e não mais reunia meus preocupantes segredos... mistérios... tabus.

Nada melhor que o tempo para resolver todos os nossos problemas e segredos. Muitos chegam ao extremo de se transformarem em agradáveis surpresas.

Minha alma antes ameaçada pelas assombrações do mal acabara de encontrar fantasmas do bem em seus lugares.

Naquela tarde tão ricamente enfeitada pela natureza, bordei minha túnica com as pérolas da felicidade presas com dourados fios de alegria. A caixinha ficou vazia servindo apenas como peça decorativa, sua chave foi jogada nas águas profundas do rio fazendo com que minha alma ficasse tão leve quanto uma pluma.

A vida passou e eu amadureci.