Coisas da noite

Noite alta. Sono fugiu.

Deita levanta; deita levanta.

Nossa!... que noite comprida...

Espera sono deitada.

Na rua, silêncio soturno.

Passos soam; alguém

vai passando.

Ouvido apurado...

Vozes...

Uma canção desafinada...

parece lamento choroso.

Acompanham um andar trôpego

palavras confusas;

é u'a melodia conhecida.

Vai aproximando

ruído de pés que arrastam

num andar desigual.

Um mastigar de palavras

que soam desvairadas,

querendo atingir o mundo.

Pobre coitado!...

Choro convulso...

Mundo, o que fizeste com ele?...

Não. Não foi o mundo,

foi ele mesmo.

Não suporta a infelicidade

procura atordoar-se

para esquecer...

A desgraça é viscosa,

quando agarra não solta,

faz da pessoa

um trapo de gente.

passos cambaleiam;

o corpo desce como trouxa.

Sons confusos de nomes

chamados com angústia;

de gemidos estertorantes.

Momentos estremunhados

como barco sem rumo.

Ninguém a segurar-lhe a mão,

a apoiar sua cabeça...

Ali, parado, encolhido,

sozinho, doente...

mais da alma que do corpo,

abandonado ao relento...

apenas um cão vadio,

transeunte eventual,

lambe-lhe o rosto

numa carícia espontânea,

solidário inconsciente!...

Zilda
Enviado por Zilda em 15/10/2006
Reeditado em 16/05/2008
Código do texto: T264692