PALAVRAS PARA VIVER

Corro o risco do erro, mas se não jogo o balde como vou saber da fundura do poço?

Nem morro e os urubus já rezam em círculo. Tudo certo: um erro pelo avesso e quase um acerto, embora paradoxo.

Marco-me com ferro. Eu mesmo me firo de medo e dúvida, e fabrico a coragem no escuro, à mão, e até que amanheça.

Dialogo com paredes, que a tudo ouve, mas nada sabem de verdades e de intrigas. Empate.

Com poucas letras invento o que como, faço o pagamento e ainda recebo troco. Faço com passos o caminho, o rio para matar minha sede. No quintal que plantarei o alimento, faço chuva e vento.

Preciso do espaço onde amarei e criarei a minha tribo, mas não me venham com obstáculos, intrigas. Não acredito gente com grandes verdades, tecnologia limpa, poesia pura, brancos de gravata e outras formalidades.

Junto gravetos na fragilidade e toco fogo no insensato, antes assim que a escuridão ampla.

Se não sei tocar um instrumento, farei um possível para que possa dedilhar. Ouso.

É assim que faço poesia e quero viver, sem razão.

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Da série: Papos de aranha