Se tudo destoa, fico quieto que passa

O momento distorce-me como uma abstração, sou só uma canção dissonante nos auto-falantes mudos, enquanto a massa funkeia na praça e nas praias deste nosso país-contingente, um contingente imenso de mão-de-obra e mentes que creram naquele que nos guiava até outro dia para a mais completa unanimidade (burra, diria N.R.) do planeta.

Agora faço meu país e meus sonhos me dilaceram e me fragmentam. Tramam, tentam corromper minh’alma. Não é esquizofrenia, creia, mas no dia seguinte me custa recolher e colar cacos, meu telhado já não existe, chove e garoa e faz lua cheia, às vezes. Corto-me e sangro sob o paletó e a gravata que não uso e entro em parafuso, na boa. Se tudo destoa, já sei, fico a toa que passa.

Tomo uma coca-cola em penso em divórcio, consórcio, show business, eleições, ilações em todos os poemas feitos e nos rascunhos imensos e bobos que guardo em alguma gaveta. Ainda bem que hoje já não tenho mais aquele arquivo de memórias, ideologia e crença. Estou propenso ao silêncio, isso é certo, quiçá, necessário. Afinal, já ‘chalei’ demais, mas a lava borbulha e escorre...