O rei sábio

Certa vez conheci uma aldeia

onde se vendia a vida dos mais pobres

para os que tinham muitas riquezas

conheci um homem lá que já tinha 450 anos de idade

e pedi a ele que me contasse como foi no começo.

Tudo começou bem antes dele nascer

quando os ancestrais da aldeia

evoluíram de tal forma que não podiam

morrer com poucos anos de vida

eles eram seres tão importantes para a sociedade

que tinham muitas coisas para fazer e não podiam

submeterem-se a viver só 60 ou 90 anos.

Foi quando um cientista inventou uma máquina que se fazia

a transferência da energia vital do pobre para o rico

sendo que o primeiro perecia ali mesmo

e o segundo saia com sua nova energia

para continuar suas tarefas.

Essa troca de energia era muito simples

funcionava mais ou menos assim:

O plebeu procurava o senhor e lhe vendia sua energia

feito um contrato em troca o senhor lhe dava a “vida boa”

tão almejada pelos miseráveis

era por um ano pois o senhor sabia quando iria acabar

a energia que havia comprado de outro no passado

e o miserável vivia bem

esquecendo seu passado de sofrimento

e ficando muito grato ao seu senhor por lhe proporcionar

aquela vida mesmo curta a “vida boa” como todos a chamavam.

Então, perguntei ao homem se não seria melhor ao invés de matar

os pobres lhes proporcionar uma vida boa

desta forma todos poderiam viver

seus 60 ou 90 anos normais e morreriam

por seus próprios destinos e o acúmulo de sabedoria colocaria-se

nos livros para as gerações futuras terem noção de suas raízes.

Da maneira que vocês vivem aqui nesta aldeia

estão castrando uma boa parte da memória de seu povo

vocês só conhecem a sabedoria dos burgueses

mas e a sabedoria que os pobres

poderiam evoluir em todos estes séculos?

Ele olhou-me profundamente

como se estivesse me analisando e disse:

Vários homens já passaram por aqui

alguns até tinham o seu mesmo pensamento

outros estão vivendo aqui

não se pode mudar o que está a tanto tempo feito

o poder está muito sólido entre os grandes

eu vim de muito longe

cheguei a comprar algumas vidas

pois tinha muito ouro.

Os que chegaram sem nada como você

tentaram mudar a aldeia

fizeram manifestações públicas

tentando mudar a vida por aqui

alguns sumiram outros foram assassinados

mas a grande maioria mais cedo ou mais tarde

acabaram vendendo suas vidas

por lutarem em vão.

A propósito não quer vender sua vida para mim?

Respondi que jamais venderia minha vida

pois minha fortuna certamente era superior a dele

e que eu não tinha interesse algum

em viver além do que meu destino

já havia programado para mim.

Assim fui embora daquela aldeia

em instante algum olhei para trás

ouvi o portão principal se fechando

e pensei que lá dentro ficara um modo de vida

que talvez não tenha tanto futuro como eles desejavam

pois nenhum homem nasceu para ser eterno.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 04/02/2011
Código do texto: T2771461