Poesia, pra que? Pra quem?
Estreitos caminhos
baixo das pontes
tempestades e inundações.
De que valem as canções neste momento?
Nem sei de nada
de que lado bate meu coração.
Poesia, pra que neste momento
e nos demais?
Pelas sombras da noite
pelo norte do meu peito
cai um telhado
inundam-se as artérias.
É só uma espera de diagnóstico
a parte mais difícil
é como se cada momento tivesse um verídico.
Pela fresta, a vida arvora-se em ventos
e buzinas
O que me daria alegria
se me doía os cortes?
Ainda atiram-se ali mais sal.
O sangue pinga pelos corredores frios
as dores de amores
vazam para dentro e inundam
arrebentam diques
e esvaem-se invisíveis.
A dor não tem cor nem cheiro
Tanta espera pelo amanhã,
pra que?
Para se criar novas expectativas
e mais espera.
Por não saber o futuro ou mesmo o presente
a ansiedade rói e corta.
Nem sei se sobra água ou se chove,
falta ar é certo
como se fosse a vida fosse uma espera do resultado do eletrocardiograma
e o coração já fora do peito
saltando nas mãos
e o pulmão seco clamando transplante.
Pra que serviria uma canção nesta hora?
A poesia seria dispensável, é certo
As portas fechadas e as janelas altas
não há onde fazer o salto pro futuro.
Faltam mata, clorofila, oxigênio no meu peito cidadão.
Não sei se vou chegar ao fundo
à rapa do tacho dos sentimentos...
Se soprar vento
pela porta da frente e coração pulsar
mesmo em destempero
haverá equilíbrio
Na corda bamba do circo
a vida é de quem está no alto
Abaixo é só um espetáculo
teatro.