Nas entrelinhas das poesia

Eu queria ser Maria Bethânia lendo Guimarães Rosa, na varanda de uma casa no sertão da Bahia. Eu riria a toa, inda mais se fosse naquela cidade perdida, onde minha mãe ainda menina passaria, alegre e festeira, a caminho da feira com a família, mas nem sabia do destino que teria, que me pariria em São Paulo em plena periferia.

Eu queria ser Maria Bethânia declamando Gregório de Mattos ou Castro Alves naquela cidade próxima ao recôncavo onde nasceu Rui Barbosa. Eu ficaria feliz de vê-la como num filme - e entre os extras e figurantes - um rapazinho contente, que nada sabia ainda do faria à frente: que me geraria, num dia, em paragens distantes desta terra e me poria no meio da engrenagem da cidade grande.

Eu queria ser Maria Bethânia, ter sua força, sua magia e metade da poesia que carrega; a sua entrega quando se encarrega de desvelar o Brasil, cantando ou declamando; fazendo-me viajar nas entrelinhas da vida, levando-me nessa volta, pra onde não fui e de onde não vim, mas de onde me sinto parte, lembrança e saudade do que não vivi.