Ensaio sobre a loucura e a insônia

Nos diálogos íntimos, falo com sombras e espíritos.

E me chegam todos os problemas, os dilemas.

Tudo fica intrincado nas impossibilidades e labirintos onde me enrosco.

Viajar pra dentro é sempre complexo, nada é explícito.

As portas ficam fechadas, não há janelas, fachadas.

Nada aberto, nenhuma sorveteria, jardim ou outra coisa colorida.

As idéias são, assim, forjadas nas dificuldades.

E as soluções só vêm depois, quando não penso nelas.

Aí as tramelas se quebram, os cadeados se partem.

Tudo parece mais fácil nas manhãs, quando as cores acordam.

E os espíritos voltam para seus casulos, nos mais silentes cantos

E entranhas dos misteriosos e estreitos recônditos da mente.

Lá onde se fabricam os medos e os pesadelos, tudo é deserto.

Os misteriosos sonhos sem vôos e sem luz

Sem nenhuma flor amarela, primavera, verão.

Falar comigo mesmo, às vezes, é um auto-martírio necessário.

Despertam-se os espíritos escusos. O obtuso e o esquizofrênico.

Uma mostra da loucura, parecido com insônia.

Às vezes eu mordo a maçã envenenada, noutras escapou pela fresta da manhã.

Aí entendo porque para quem está preso tomar sol é um bem intenso.

O vento, a chuva, são como Deus: alívio, distensão.