O ANO SE FINDA. SERIA ISSO O TEMPO?

Quando o tempo passa, leva consigo um pouco dele mesmo. Leva ainda um pouco da gente, da cor dos cabelos, do esmero. A visão fica imprecisa.

Sempre presente, não importando em qual tempo, estão os amigos. Mesmo àqueles que às vezes distanciam-se por motivos vários: viagens, mudanças, amores.

Já os inimigos ficam à espreita, colocando pedras no caminho, espinhos de vudu - são aqueles que não nos aceitam pelo que somos, pelo que pensamos, e até pelo que não sabemos. Isto sem falar dos intolerantes que atacam sem que, nem por que.

Pelo tempo, fomos crianças, fomos adolescentes, adultecemos. Nessa estrada ficam para trás a infância, a inocência e aqueles que vão morrendo. Em cada virada, amamos, desamamos, aprendemos, vivemos. E também tropeçamos e erramos, querendo aprender e fazer uma loucura ao menos que seja.

Nem sempre fomos felizes, mas sempre estivemos próximos do que sempre seremos: seres humanos sensíveis, perfeitos e imperfeitos. E seguimos assim mesmo - acumulando papéis, anotações, livros na estante; perdendo chaves, pisando em coco de cachorro, enfrentando tragédias, enchentes e até cultivando algumas flores - e elas brotam, às vezes, florescem e fazem com que compartilhemos um pouco do seu mundo pelo perfume, pelas cores.

No outono, choramos com as árvores sementes secas e folhas amareladas - e aí vem o inverno e bate uma saudade cruel. E nos tornamos poetas! Somos mais que o pólen. Talvez sejamos o orvalho. De qualquer forma, estamos. Presentes no tempo.

E poetamos aos montes, juntamos idéias e a vida vivida, flores, amores, deleites e dores. E quando chega o fim de mais um ano, aí indagamos: É isso o tempo? (Célio Pires de Araujo, sobre texto da escritora Maria Quitéria)