DIÁLOGO COM AS PAREDES

Ela se esconde em mil e um argumentos, fala do vento, fala da morte, fala da sorte. Diz que me ama e me chama na madrugada, me afaga, me beija, me enseja, mas depois se vai. Diz que seu tempo é escasso e raro os seus minutos. Deixa-me à espera, naquela do porvir, do que pode acontecer e aí não presta: o mundo desanda, me parece que tudo vai ruir: o sistema financeiro, a ciranda da bolsa, a onda de falências, demências deste tempo de multidões vagas; mas continuou sem cura, falando com a noite.