Sigo pela manhã chuvosa e fria desse inverno, quase impiedoso aos que amam a luz do sol, como eu, que apenas com a claridade difusa sinto-me renascida todo dia. Olho a paisagem sufocada d'água, acompanhando a linha do horizonte, e lá noto o branco das gotas que caem implacáveis, mostrando que a chuvinha ainda persistirá por muito tempo. Faço figuras imaginárias nessa mistura de água e neblina, não dá para se perceber com nitidez o que se passa lá, onde nesta hora deveria o sol estar aquecendo a todos.
Dia de chuva traz benefícios à terra ressequida e apaga o pó, faz mais verde a paisagem, oferece canções de ninar para que repouse a alma dos que a ouvem. Chuva intermitente, pode dar nostalgia, batendo nas telhas em melodia afinada, como se um Maestro estivesse atento a qualquer dissonância deixando-a sincopada e até triste na repetição monótona. Gosto dessa chuva mesmo assim, pois consigo viajar mais calmamente até meu interior e traçar planos para o dia de sol, que sei, resplandecerá amanhã. Como uma estação do ano, também tenho as minhas fases dos dias de sol e de chuva, de sons alegres ou nostálgicos. Somos unos sempre, natureza e ser humano, mesmo que não percebamos isso. Porém, hoje noto a chuva como se incomodasse meu tempo, pois necessito passos externos para sentir a plenitude da vida. Quero caminhar livre lá fora, sem precisar me precaver ou ficar molhada. Vá embora chuva ingrata, até que de você,eu sinta saudade e peça sua volta. Deixe o jardim e o horizonte hoje só para mim...

 Chuva fina, branca, dengosa,
 traz nostalgia e desalento,
 vá embora chuva maldosa
 leve junto todo seu lamento!


18/07/12
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 18/07/2012
Reeditado em 15/04/2014
Código do texto: T3784121
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