Travessia

( Inspirado no texto  Tempo de   de Fernando Pessoa.)

O tempo chegou apressado trazendo consigo
mudanças.

Eram urgentes e  necessárias,  alardeava o
mensageiro.

A fala mais que incisiva não se mostrou suficiente

Ocupando-se com terceiros, atribuia  ao trabalho a
renúncia de si mesmo.

Sequer observava as  noites que se
avizinhavam.

Vestia o abrigo do medo quando a vida lhe chamava.

Ocupava-se com segredos, na mesmice se ocultava.

Assim escoaram-se os dias envoltos na nostalgia.

Diante das estratégias, fuga da própria vida.

Passados alguns janeiros sentiu  a dor do vazio.

Procurou ouvir o tempo, eis que tinha debandado.

Sobre as mesas laterais restaram as velas brancas.

Tanto fugiu de si mesmo rejeitando as mudanças,
que  no despertar tardio, restou apenas o vazio.

Varadas as noites na angústia distanciou-se  de si
mesmo.

Despertou tarde demais para mudar a roupagem

Perdera   as oportunidades de mudar a paisagem.

Fio de vida sobre o leito  pelo tempo arrefecido
 vestido de solidão.


(Ana Stoppa)























 
Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 15/08/2012
Reeditado em 31/01/2015
Código do texto: T3831045
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