Esta noite vi o luar desenhando imagens soturnas por entre o arvoredo. Entre ele, notava-se a beleza da natureza em horas mortas, mas cheias de um"quê" de vida que os olhos não conseguiam divisar, apenas a alma sentia, no perfume que exalava em algum lugar, trazido calmamente pela brisa, esse odor noturno, quase imperceptível. Em noites assim, tudo é de uma paz tão grande, que parece não existir mais nada além do manto de estrelas no alto da abóbada celeste e a terra, que como um gigante adormecido apenas sussurra em sonhos.
Não incomodam os seres invisíveis que perambulam entre as sombras da paisagem pois são amigos desde sempre em hora de cisma. Sei que junto a cada um deles há também um anjo de luz, olhando por todos que descansam em sonos justos. Eles conhecem minha maneira de agir e que sei demais, vi demais e ouvi muito de suas passagens etéreas. Só que minha tranquilidade os acalma e deixam-me então apenas seus sinais. Quando a noite é muito escura, mandam vagalumes, que com suas setas de luz orientam meu olhar, tentando persuadir-me de que sonho apenas.

 
Esta noite vi o luar desenhando imagens soturnas entre os arvoredos e pela primeira vez na vida tive receios, tive medo. Eis que haviam ausências, não encontrei a companhia dos meus seres imaginários e abandonada, restou-me apenas a lua imponente, rindo de mim, achando que desistiria dos mistérios noturnos que ela bem conhece, mas não o fiz.
 
A emoção torna a vida diferente onde a natureza ajuda-me em tudo e tenho-a em mim como um órgão vital, ela cura-me sempre. Tive necessidade então de lágrimas, que se juntaram ao leve orvalho, alegrando as folhas ressecadas das flôres das trilhas de minh'alma por onde caminhei horas a esmo, só, quase cega por entre algumas pedras que feriram meus pés nos passos reais que levavam o corpo e no caminho não havia viv'alma, o que tornou a viagem muito mais intrínseca, sem interferências. Apenas fantasmas do passado acompanhavam-me, mas muito de longe, sabendo que não deveriam quebrar o instante só meu, em busca de minhas vivas verdades.

12/09/12


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Escrita numa noite de um tempo qualquer

Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 12/09/2012
Reeditado em 15/05/2023
Código do texto: T3877910
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