A mãe da criança causava muita pena. Seus olhos eram de uma tristeza imensa, olhavam a tudo de soslaio, parecendo não entender o que a vida mostrava, dura e cruelmente, mais uma vez.
Ali na delegacia estava seu filho, mal entrado na adolescencia, novamente preso, sendo notificado por tráfico e uso de drogas, sem noção do mal que causava a si e a ela.
Ele apenas sacudia os ombros, ria com aspecto de pouco caso e quando uma assistente social chegou com alguém para levá-lo, nem olhou para o rosto inundado de lágrimas de sua pobre mãe. Foi para a Fundação Casa, mais uma vez. Sabemos todos que de nada adiantará isso, pois já esteve lá outras vezes e fugiu. Porém desta vez ao praticar o assalto estava armado, ameaçando pessoas, completamente em fissura pela pedra maldita. Acompanhamos a mãe da criança, uma anônima, carregada de sofrimentos até uma padaria próxima da delegacia para comprar-lhe algum alimento, pois percebemos que passara várias horas ali dando plantão na porta do DP, esperando alguma notícia de seu moleque, nada comera e ainda havia deixado sós em casa mais duas crianças sem alimentação. No caminho ela nos disse que já pensou em suicídio, deixando os filhos para alguém cuidar ou mesmo para algum abrigo. Ficamos tristes, nosso dia não progrediu como o esperado, pois estas coisas mexem conosco, procuramos ajudar a pessoa assaltada e acompanhamos o caso. Agora a vítima do assalto está tentando encaminhar a vida dessa família para um rumo melhor, está muito difícil, necessitam de tudo, física e emocionalmente. Penso bastante em todas e em quantas mães estão nessa situação ou até pior. Pessoas sofrem demais, a humanidade sofre, cada um carregando sua cruz e pergunto-me porque tem que ser assim? Utopia filosófica: queria um pequeno paraíso a cada ser humano, simples e tranquilo. Onde buscar a paz e o remédio para tantas tristezas espalhadas pelos quatro cantos do mundo? Desvalidos carregam cruzes pesadas demais, muitos procuraram por isso, outros não.
Vida humana desumana.


11/10/12
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 11/10/2012
Reeditado em 05/05/2015
Código do texto: T3927250
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