O País da Imaginação.

Eu sou um amante da poesia, os poetas são maridos dela.

Eu quero deixar claro que ainda não fiz a poesia dos meus sonhos, mas já fiz poesias dos meus pesadelos.

Há uma diferença entre o pensar, o sentir e o querer: Um está relacionado à cabeça, o outro ao diafragma e o último aos membros. Mas não há diferença entre um homem e o seu delírio.

Então, qual o meu delírio? O meu delírio é ser um homem normal, cheio de vícios e problemas comportamentais. Na realidade, eu não sou esse homem, mas esse homem é que sou eu.

Eu peço aqui licença ao leitor para escrever a história de um dos meus infinitos personagens.

Introdução:

Era uma vez, um rapaz muito jovem que, não sabendo trabalhar em nada, resolveu seguir um caminho misterioso, que seus pensamentos traçaram e que levava a um destino desconhecido. Por pensamento, ele fez um mapa com uma cidade que ele não encontrava em lugar nenhum e denominou a cidade de Lugar Nenhum. No mapa, desenhou uma estrada que levava a outra cidade que representou por um nome: Lugar Algum. Depois, continuando a estrada, desenhou uma floresta cortada pela estrada que atravessava uma cordilheira e depois, através de uma ponte, um rio, chegando, afinal, a um país, conhecido pelo rapaz como País da Imaginação, onde todos os seus delírios se realizavam.

Era para lá que o rapaz desejava ir, mas, para isso, teria que chegar primeiro à cidade Lugar Nenhum; mas onde ficava Lugar Nenhum? Eis uma pergunta que ele não sabia responder nem consultando os seus delírios.

Então, o rapaz foi até o sábio mais famoso de sua cidade pedir o seu auxílio e o sábio perguntou o que ele queria. O rapaz respondeu: "-Onde fica Lugar Nenhum?" E o sábio respondeu apontando para dentro da sua cabeça. Foi aí que o rapaz entendeu que a resposta apontava não apenas para a localização daquela cidade, mas a de todo o mapa. Logo ele dormiu e sonhou, em busca da cidade Lugar Nenhum.

Capítulo 1:

O rapaz sonhou estar na sua casa, com as malas prontas para viajar. Na hora em que pôs os pés fora de casa, sentiu-se caindo num abismo profundo, do qual jamais poderia sair. Caia, caia e caia, mas não chegava ao fundo. Olhava em derredor e via apenas o nada. Ele pensou e concluiu que Lugar Nenhum ficava no nada e tentou apalpar o nada, mas não apalpou nada e, ao mesmo tempo, apalpou o nada. Logo, percebeu que não havia nada em sua mão, mas que havia o nada. A questão era: de que lado ficar? E ele escolheu ficar do lado do nada. Entretanto, havia algo que o perseguia e o nada logo se transformou no mapa que ele criara e acabou caindo na cidade Lugar Nenhum.

Lugar Nenhum, concluiu ele, ficava no nada, mas o mapa que ele fizera continha a cidade Lugar Nenhum, logo chamou o mapa de Nada. Então, o rapaz escreveu no mapa: Mapa do Nada. E logo veio a pergunta: o que era o Nada? E ele respondeu: o mapa dele. Mas ele queria ir além e saber se o mapa também não tinha uma localização no contexto de que o País da Imaginação ficava no Mapa do Nada. Entretanto, lembrou-se da resposta do sábio e concluiu que o Nada ficava na sua mente, logo concluiu que os gregos estavam certos: o nada não existia, pois era fruto da nossa imaginação; e logo entendeu que, se havia o nada, então era parte da nossa imaginação, logo ele existia, pois nossos pensamentos constituem uma realidade. Entretanto, sabia que, na linguagem cotidiana, o nada existia, pois ele não trabalhava com nada. Logo, a existência do nada dependia de uma questão cultural. Concluiu ele que não havia nada melhor do que não fazer nada, senão ele não estaria ali.

Estando em Lugar Nenhum, o rapaz procurou um lugar para ficar, mas não viu ninguém e as casas estavam todas fechadas e todas pareciam novas. Bateu em várias portas, mas ninguém respondeu e resolveu abrigar-se na varanda de uma das casas e dormiu.

Logo que acordou, o rapaz procurou alguém pela cidade, mas não encontrou ninguém. Logo, ele concluiu, a cidade era abandonada. Então ele invadiu uma das casas, alimentou-se, pegou alguns enlatados, água e até vinho, além de pão e queijo, e foi-se embora, rumo à cidade vizinha, Lugar Algum.

Chegando a Lugar Algum, encontrou tudo aquilo que esperava encontrar em algum lugar, mas não havia em nenhum lugar. Ali ele conheceu uma estalagem e lá passou a segunda noite. Foi a melhor noite da sua vida, pois lá ele encontrou as respostas para as suas perguntas de uma forma que ele poderia deixar de sonhar e buscar o País da Imaginação nos livros. Era lá que ele o encontraria. Concluiu que, quando ele voltasse do País da Imaginação, escreveria um livro, contando suas aventuras.

Na manhã seguinte, o rapaz, pôs-se em viagem, rumo ao País da Imaginação. No caminho, passou por uma floresta cheia de mistérios... Ouviu gritos de mulheres em sofrimento, choro de crianças e até gargalhadas pavorosas de bruxas satânicas. Ao cair da tarde, tinha atravessado a floresta. Depois, tinha o rio. Nele viu sua própria imagem e não se reconheceu e acabou concluindo que era outra pessoa: era fruto de sua imaginação.

Ao cair da noite, o rapaz chegou a um portão, encima do qual estava escrito País da Imaginação. Bateu no portão e um guarda apareceu e disse: "-Diga a senha e entre." E o rapaz respondeu: "-Eu não sei." Logo o portão se abriu e toda a fantasia estava lá, aguardando a vinda do forasteiro e ele entrou no País da Imaginação e de lá saiu depois de alguns anos de tratamento psiquiátrico, ao final do qual ele era um novo homem: era o homem que vira no espelho d'água do rio. Então resolveu escrever a fantasia que ele vivera no País da Imaginação.

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 30/10/2012
Código do texto: T3960488
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