Precisavas Brilhar



E quantas vezes me fiz sombra tentando deixar-te brilhar.

Apaguei o sorriso, escondi as estrelas, cerrei as
portas dos sonhos,  o lumiar do último farol.

Precisavas brilhar.

E pensar que te entreguei a primavera no auge -  perfumada, colorida, apaixonante para em silêncio
habitar o ocaso do outono.

À revelia impedi o abrir das janelas, deixei-para
ti o ar, a luz, o calor, a vida.

Precisavas brilhar.

Mas, não entendias  nada de vida, de paixão, de
amor, de abraços cálidos,  de beijos molhados.

Teu amor  mal passou da retina -  limitado,
sufocante, alegoria perfeita para o reinado de
Momo, dias cinzas viriam somar-se às  quartas-feiras
da mesma cor.

Ainda assim tirei da caixinha dos sonhos um ramalhete
de estrelas, entreguei-te sem pensar.

Precisavas brilhar.

Vesti a alma de luto -  vulto opaco, olhar distante,
face pálida, sonhos arquivados nos amanhãs que
jamais veríamos de mãos dadas.

O amor teceu laços, embaraços, nós.

Não era amor!

A pálida chama da ilusão arrastou-se por anos.

Muitas luas experimentei   dias  despidos  de vida,
a  alma  entorpecida, o  coração dilacerado.

Precisavas brilhar.

Quanto entendi que  somente minha ausência  realizaria
este este insano desejo abri  todas as comportas as águas  materiais por irrelevantes.
.


Esvaziada da mesmice apaguei as luzes do roto palco.

Sai pela porta dos fundos  sem dizer uma palavra carregando apenas o essencial,  a Paz.





Ana Stoppa





Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 24/05/2013
Código do texto: T4306010
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