TIJOLOS POÉTICO - Tiros pra todo lado

Quando eu me vejo só, penso que a solidão longe de ser um martírio é benção. Eu sou mesmo louco para entender porque na vida tudo se planeje, mas muito se dá pelo sentido inverso ao da razão, pelo caminho torto do coração

É besteira ficar tentando fazer rima, emoldurar emoções, enquadrar sentimentos, poemas: o sangue segue fluindo no avesso, contramão, contradição, mas coeso bate forte no peito e espalha-sa até o desão do pé, milagre.

A máquina humana é perfeita e se entende no caos, só não suporta os desatinos da mente, ai se descontrola e pode desmoronar. Desvairos, desejos, beijos, fantasias são loucuras com cura, mas não têm receita.

As vezes me insurjo e penso em romper o cercado que me puseram para pastar. A comida é tóxica, a água contaminada, o ar está sujo e jogaram química no rio, na maré não há peixes, nada.

Carrego comigo versos amigos, feridos, gritos, gemidos, risos e peitos partidos. Reciclo tudo e crio peixes nas águas do meu próprio rio. Enveredo caminhos raros, reconheço marcas, picadas do caminho, piso em passos. Precipício.

O barco que navego sou eu mesmo e deus acima molda a paisagem e faz o clima. A rima é uma excreção do poeta e a defesa da meta é a perfeição para o goleiro.

A inspiração um sopro divino, como o hino é a conjunção da nação e um país a comunhão de um povo, que se junta e fala a mesma língua, com sins e nãos e tenta a união, apesar do governo.

Na ascensão e no declínio musico o que me atino, com rimas, limas e formão faço a escultura do meu tempo, acrescento, vento sol e o luar, desejo,amor e tesão. Sei sou só parte do destino/ desatinos de uma geração.

Caibo em meu próprio casulo, conforto, mas é tempo: preciso nascer todo dia novo. Me devoro e destruo a morada, o ovo é só um ninho, a minha casa é lá fora: vento, areia, deserto, chuva, tempestade são só ferramentas para o meu destino.

Onde revoou é o pasto onde planto e colho. Minha nação é onde como. Não há como: não há amor à fome. Morrer seco não é destino humano. Para isso deus deu mãos e destreza pra fazer a lança e a revolta. Que me perdoe a paz omissa, mas é preciso luta, quanto farta hipocrisia e falta pão.

Minhas mãos pensam com atos, minha mente pensa e se desgosta, mas não se esgota antes da solução. De tanto matutar um caminho, nasce o sol da solução, claro e límpido como a manhã no campo.

Nas noites de chuva, nos ventos medonhos moram demônios. Despertos armadilham o caminho da mente, plantam labirintos. O pensamento é o pecado que mais pratico, é um rito pagão que faço, seja lua cheia ou maré vazante.

Em tudo ponho garra. Não me agarro ao fácil, o impossível é só o um passo depois do difícil, risco meu destino no horizonte, ponho a mochila nas costas, pois não há caminho difícil. São Thiago, São Francisco são amigos de boteco e estrada.

Como Buda se iluminou sob uma árvore e Jesus meditou em Getesamani, com fome... Penso nisso e fico quieto, nada em comum comigo, mas as vezes fico feliz, quando vejo a manhã nascer azul e vejo claro como tudo é belo, ritualístico, rústico e perfeito.

É bom é certo, como é bom poder se tocar, trocar, ser instrumento. Que todos toquem suas violas e acordes e acorde sempre leve, embora o assalariado peça aumento, o patrão o perdão das dívidas com o banco.

Eu que não sou Bush que pede vingança, eu só peço a paz guerreira, assim como o cego pede a visão, o pecador pede consideração ao seu pecado e deus pede a todos correção, mas o homem se desatina na vida e pensa que tudo é um parque de diversão.

Se lá no céu não nos ouvem os gritos,ou o silêncio dos joelhos, tentaremos a telepatia divina, magia, chamanismo. Façamos chover no deserto, dúvidas no certo, rios na caatinga, alegria para todos e almoço, janta e que a sobremesa seja farta.

No meu barco cabem todos: vencidos aguerridos, bêbados, drogados, cafajestes e desajustados. A nau dos insensatos abarca também os poetas, músicos e honestos trabalhadores braçais. O meu partido é o dos corações partidos, como disse jorge mautner, o músico dos malditos: no kaos cabem, todos, mas não é o inferno.

Que convirjam todos os que crêem no hoje, pois o amanhã é só um plano dos astros e que seja claro como um rio no parto das montanhas, reflexo imediato da bela nuvem negra no céu. O que está em baixo é o que está no alto.

Tudo se move, a vida é ligeira, cabelos brancos só dias sobre dias, são sábias lições. Meus pêlos, meus nervos minhas certezas não são mais tensas. O fim pode ser só começo, onde acaba a estrada começa o rio, navio, mar e deserto.

Eu sou alegre, triste, repleto e vago. Cada instante é um mini-projeto de amanhã. Sigo sempre na frente e as vezes não me alcanço, fico no meu encalço, piso nos mesmo passos e lá na frente já não me vejo.

Descarrego tudo neste traço torto. Que meu inimigos tenham olhos e me alcancem e me enfrentem, frente a frente, com sua maldade. Que os anjos todos desçam e protejam e me acompanhem na batalha. Essas sãoi minhas armas: eu mesmo e todo o imenso nada.

Procuro o íntegro, integro certas falanges. Não há força negativa que desintegre caráter. Há sempre exemplo reto e eu prefiro o torto e o certo. O trilho, o brilho, a noite sem lua, o reflexo do olhar. São sinais do céu.

A maldade não vai desaparecer, apenas misturar-se com a areia, criar seus veios secretos, submergir, aflorar, está em nós, submersa, subversa, quieta. Não se iluda: ela é o próprio poder esperando sua hora.