CENTO E VINTE MINUTOS DE POESIA (2)

[Uma viagem de duas horas, pelo meu eu poético]

Abílio

4

São 16,33 horas em Portugal!

Eu sou um filho do campo.

Adoro os espaços livres e selvagens que ainda existem.

Nada que o homem construa, se compara à beleza de uma árvore em flor, a despertar para a vida depois de uns meses de repouso vegetativo.

E que dizer dos animais que correm livres pelos campos ou das aves que voam dando vida aos céus?!...

E das cores com que a Primavera pinta a terra de vida?!...

Como sabe bem chegar a uma árvore e colher directamente um fruto e saborear ali mesmo o perfume da vida que exala do seu interior;

Como é único o acto de beber água directamente da nascente, sentindo no nosso ser o embalo da terra mãe;

Como descrever o encanto de estar sentado num ponto alto e deixar o meu olhar percorrer o horizonte e pintar mentalmente as cores únicas que unem o céu e a terra…

Perco-me horas e horas, a encontrar-me nos instantes da vida.

Ali escrevo os mais belos poemas -o que nem é preciso muito, pois basta olhar, interiorizar e copiar para o papel.

Poucas vezes vou à igreja ao encontro de Deus!

Só os cegos não percebem que Deus vem até eles, em cada árvore, em cada ave, em cada pedra!...

E é tão fácil… Basta abrir o nosso peito e ver com o coração!!!

* * * * *

5

São 16,45 horas em Portugal!

Ainda não parei de escrever nos últimos 45 minutos.

Assumi um compromisso comigo mesmo, de não parar de escrever durante duas horas.

Eu procuro cumprir todos os meus compromissos, pois sou incapaz de me enganar premeditadamente a mim próprio.

Escrevo seja lá o que for, seja lá sobre o assunto que for.

Podem achar o que entenderem.

São palavras minhas, são sentimentos meus, sou mais que nunca eu!

Escrevo quase sempre na primeira pessoa do singular, pois assim é muito mais fácil de interiorizarmos o que nos vai na alma.

Tantas vezes já escrevi sobre acontecimentos que não eram meus, mas que eu tentei criar como meus, pois a vida é uma experiência única e ninguém pode dizer que não faria esta ou aquela loucura.

A vida tem para cada ser humano um guião desconhecido e irrepetível.

A todo o momento, cada um de nós está fazendo história.

Não vamos ignorar e desprezar o nosso papel.

Existirá facto mais triste que alguém passar pela vida sem perceber que viveu?!...

* * * * *

6

São 16,54 horas em Portugal!

Não gosto de falar de mim!...

Todas as vezes que falamos de nós, corremos o risco de sermos humilhados, por nos considerarem vaidosos ou soberbos.

Mas, falando depressa e bem, eu posso questionar: Se não falarmos de nós, com conhecimento de causa, quem o poderá fazer?!...

Afinal quem melhor que eu para falar de mim?!...

Mas os seres humanos têm os seus preconceitos enraizados de tal forma que os olhos vêem a realidade que lhes é conveniente.

No fim de contas, o que o ser humano gosta mesmo é que sejam outros a falarem de si, de preferência enumerando um infindável rol de virtudes que nem sequer existem!...

Somos muito dados ao exagero mas, no que respeita ao nosso benefício pessoal, tudo o que vier nunca será de mais!...

* * * * *

7

São 17,03 horas em Portugal!

Existem muitas formas de falarmos de nós, sem melindrar outros egos!...

A melhor maneira talvez seja incluirmos nos nossos pequenos nadas, pormenores em que entra aqui ou ali, o nosso interlocutor ou alguém da sua relação.

Existem vínculos intuitivos, não assumidos, que mesmo assim são respeitados pelo ego de cada um de nós.

As relações humanas são e serão sempre muito complexas, principalmente porque ninguém é aquilo que aparenta ser.

Tenho muito medo das palavras dos homens, quase sempre nascidas no calor da emoção e tão pouco na razão do coração.

Nos encontros e reencontros, assumem-se promessas de amizade, que ao fim de dias, semanas meses, vão perdendo toda a sua razão de ser.

E por isso eu gosto de estar só, de preferência na sombra de uma árvore ou sentado no sopé de um monte, percorrendo as maravilhas da Mãe Natureza com todos os sentidos, sabendo que toda a sua beleza está ao meu dispor de uma forma generosa e descomprometida.

* * * * *

(continua)