Gatos Pardos.
Por Carlos Sena 



Não adianta acelerar os ponteiros do relógio que a noite não chega mais cedo. A noite é o degredo dos amantes e, nem por isso ela tem pressa de anoitecer. Também o dia, pela sua austera identidade e luz, não se conduz movido pelos desejos dos homens. Noite e dia, dor e alegria, são um pouco da dimensão que o sopro dos deuses nos concedeu para ser feliz.
 Triz.
Talvez porque a vida precise do tempo para nos ludibriar na passagem dos anos. Nesse passar, a noite nos esconde do medo e muitas vezes nele próprio se torna sem pesar.  Pensar. Porque dispensamos o raciocínio diante da força que o corpo tem para o enrosco da vida que urge.
Surge. 
Assim, relógio que atrasa não adianta. Tampouco adianta tecer as horas como se o tempo fosse uma colcha de retalhos repleta dos nossos desejos.
Beijos.
Afetos que nos alimenta cada dia, qual o pão nosso que o Pai Nosso não prenuncia. Hemorragia. Sangrar da carne que arde em cada laço partido.
Parido.
Parto da vida que não se deixa perder, mesmo quando o dia está sem luz e a noite serve apenas para a convivência dos gatos pardos. Por isso, não adianta acelerar os ponteiros do relógio que a noite não chega mais cedo.