Amor bom contra-rotina

Aos pés do fogão ela inventa a vida, transformava a rotina parca em delícias: Um dia omelete de cebola picadinha, onde, às vezes, disfarça e chora, noutro cambuquira refogada, com muita salsa e pimentão.

No avental desgastado ainda brilha um sol bordado de outros tempos, de enxoval e namoro, da vida à frente para erguer alicerces a dois. Só não sabia do duro que isto seria, o quanto pagaria à vista pelo futuro.

Nada disso é pouco, se o seu amor ainda transborda. Pensa consigo: - Venha logo querido, sei que virá suado, marcado pela labuta, no peito toda a aflição do salário pouco para muito mês, mas venha com seu vigor, sua força, que quero te dar toda a felicidade e prazer, fazê-lo esquecer da rotina. Beber-te, fartar-te do meu amor.

Ela sabia como ninguém fabricar a flor do amor, se dar totalmente, apesar do cansaço que ele traria junto com seu corpo forte. Depois do omelete, arroz e feijão, uma mulher afoita que escorria desejos por baixo lhe preparava outras delícias.

Na hora próxima da sua chegada, já noitinha, ela põe a mesa, toma um banho vigoroso, pra tirar o cheiro de dona de casa. É necessário desenhar a beleza, perfumar o corpo, para sobressair a amante.

Pensa consigo: Venha logo, querido, mesmo com seu cheiro ácido, com seu suor seco no corpo, que enxugarei com beijos a tua pele impregnada de trabalho e te farei, depois, dormir, como sonhos celestes e um riso nos lábios.