Bolo de fubá

Quando fiz esta canção chamava-se " E se esqueço a canção", mas não me agradava muito, e sempre me lembrava dela como " Bolo de fubá", que acabou ficando por força do hábito. É uma música caipira, no verdadeiro sentido da palavra, estilo Renato Teixeira, que gosto muito, e que certamente me inspirou .

A primeira idéia era a de alguém que estava longe do seu lugar, do seu rincão , da sua gente , e dos pampas gaúchos. Saudoso e com vontade de voltar ,para se assentar definitivamente, porque lá está alguém em especial, e as pequenas coisas simples que o fazem feliz.

A ilusão está pautada, com um alerta a quem flerta com ela, não se dando conta de que as armadilhas existem , e como o próprio nome diz, é o que ilude, o que parece real e não é. Buscar as origens sempre, e aqui está novamente o "caminho de volta", como a linha que precisamos enrolar cada vez que nos perdemos. A sabedoria consiste em manter a linha sempre , e nunca cortá-la , pois ao final é ela que nos salva.

As cartas sempre dizem, " E se a sorte ajudar...", e por isso quis iniciar a canção desta forma, em "Lá maior", que é um acorde de otimismo . Tudo deve correr com naturalidade, esperando encontrá-la por lá, e recomeçar uma nova vida, com simplicidade e alegria.

Muitas vezes tomamos cofezinho com bolo de fubá, mas nem sempre tem o mesmo sabor, e este gosto depende da companhia, do lugar, do estado de espírito, enfim, do nosso amanhecer. Um conjunto de coisas miúdas que se completam, sonhos de violeiro, a varanda, a guría, a prosa , a toada, e uma querência .

O segundo momento é o da terra, o casamento, a vida no riacho , pescando, uma paz rural e definida. " Se esqueço a canção, eu não vou lastimar", significa que não há razão para cobranças tolas, apenas se refaz, e pronto. Criamos estereótipos ao longo da vida, que só nos atrapalham, e quando nos damos conta, precisamos reaprender , não se julgar , não se cobrar tanto, tornando a vida mais prática para ser feliz de verdade.

Os sonhos são individuais , e não é correto inserir outras pessoas, pois apesar de desejarmos, devemos respeitar a individualidade, pois as pessoas tem seus próprios sonhos, tão importantes quanto os nossos, e quando se afastam ou se aproximam é porque assim o querem, deixando o nosso sonho ainda mais bonito.

Quando fecho os olhos imagino Renato Teixeira cantando " Bolo de fubá" no rádio do carro, e aumento o volume , o vejo cantando daquele jeito matuto, pronunciando cada palavra, como ele costuma fazer meio que proseando em seus acordes de viola.

Me lembro que a gravei num domingo a tarde, bem frio, na casa do Dan, num pequeno apartamento no térreo , quando ele morava com a Paula, e a janela do quartinho de som dava para o "play ground", eu estava com dor de cabeça, o que não é comum para mim, mas queria muito fazer a gravação naquele dia, por isso fui com o meu violão preto, que tanto gosto.

Quando falei da canção ao Dan, ele não acreditou muito na proposta,mas percebeu a seguir que eu estava fazendo coisas diferentes, estava ousando para me aproximar de compositores que admirava, então ele foi fundo, pegou com vontade para me acompanhar nos acordes, e fez um belo arranjo, ( Março de 2010).

" E se a sorte ajudar

Eu te encontro por lá

Sentar na varanda

Tomar um cafezinho

Bolo de fubá

E se acho um refrão

Já começo a tocar

Procuro as palavras

Ensaio este verso

Pro canto rolar

E se um dia ficar

Acho que vou gostar

Comprar uma terra

Juntar nossos trapos

Vara de pescar

E se esqueço a canção

Eu não vou lastimar

Refaço este verso

Invento outra rima

Só pra te agradar

E se acho um refrão

Já começo a tocar

Procuro as palavras

Ensaio este verso

Pro canto rolar

E se a fome chegar

Não irei me apertar

Corro pra cozinha

Pegar um pedacinho

Bolo de fubá " ( 3x).

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 03/10/2014
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