A água escorria tão límpida no pós chuva que parecia mesmo lágrimas de anjos, refletia o céu e eram um abraço só. A correnteza do riacho continuava indo em afinado burburinho e levava com ela os pensamentos. Gostaria de ser assim, apenas deslizar para onde quisesse ou tivesse traçado um caminho, sem precisar dar satisfação, em plena liberdade e leveza. Sentei-me à beira d'água, molhei os pés com receio de macular aquela pureza que vinha da nascente. De repente, um enorme sapo pulou detrás de uma pedra e parece que me olhou, não assustei. Ele sumiu logo entre ramagens e foi cumprir sua missão. Ali fiquei, pensando e a meu modo poético: seria ele um príncipe e o deixei ir? Sempre pode acontecer. Criei a então a sensação de que devo esperar a volta do sapo verde, olhos espertos e até bonito, diferente dos outros que já havia visto . O riacho continuou a sua saga, o tempo passou um pouquinho e eu levantando-me, ajeitei o chapéu de sol, respirei fundo e regressei tendo a impressão de que era seguida. Havia um leve farfalhar de folhas, um pressentimento de que o príncipe sapo estava por perto e que me observava. Envolvida neste louco sonho, na parte ainda adolescente do coração, segui devaneando .De repente, uma voz perdida ao longe, a da realidade, despertou-me a atenção. O encanto do passeio que gosto foi quebrado, desfez-se a magia de minha tarde no campo. Sacudi a cabeça, respondi que já iria, mas antes juro que olhei várias vezes para trás na quase certeza de que tinha companhia.


Imagem : Google
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 06/01/2015
Reeditado em 26/06/2017
Código do texto: T5092950
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