Teu cheiro é tua senha

Quis escrever-te uma poesia sem nenhum tipo de estilo ou forma que não a que lhe empresta o meu amor, pois que uma poesia prá ti não pode estar limitada às palavras contidas na métrica, as que se encaixam na rima, que se submetem ao estilo ou se fazem identificar pelo gênero.

Uma poesia prá ti tem que ser como sou quando estou contigo: livre, sem limites, sem senãos, sem fronteiras. E se, porventura, uma rima se faz presente, ela por si mesma se aventura, pois que não se faz nem porque quero nem porque queiras, mas tão somente por tudo o que me fazes ser quando estás comigo, quando sinto tua pele em meus lábios e beijo teu umbigo.

Nesses momentos tanta coisa acontece que não sei o que se passa comigo, nem a que dimensão me levas, pois que tantas sensações me vêm que eu não posso percebê-las à luz de referência alguma que conheça. Descubro mil mundos jamais sonhados no mais atrevido dos meus sonhos, por mais ousados que sejam. Viajo para um universo de percepções ou de falta delas que palavra alguma pode explicar, que rima alguma pode descrever, que métrica alguma pode conter dentro dos versos mais perfeitos, sejam quais forem.

Sei apenas que teu cheiro é tua senha de acesso ao mais profundo de meu corpo e de minh’alma, pois que para ti não existem limites mensuráveis sob qualquer unidade que se queira utilizar para avaliá-lo. Teu cheiro também é minha senha para mergulhar nesse mundo insondável dos desejos e instintos que me afloram, numa mistura surreal de carne e espírito, de concreto e abstrato, de prazer efêmero e infinito ao mesmo tempo. O infinito se faz na proporção com que se mostra, deixando a certeza de que, de tão intenso, jamais deixará de ser sentido, não importa quanto tempo se passe. O efêmero se faz na certeza da hora em que o cotidiano te afasta do meu corpo e me priva desse encanto, por um tempo que se arrasta como se interminável no período em que permaneces distante de mim.

Nesses momentos tão nossos, qualquer tentativa de entendimento se mostra inútil e absolutamente irreal por conta de sensações tão constrastantes, tão surpreendentemente antagônicas que eu, ainda que o desejasse, não poderia sequer alcançá-las por meio de lógica ou razão. Se, por um lado, o prazer que me proporciona me traz uma sensação de atingir a plenitude, o ápice da satisfação possível de ser sentida, por outro me torna insaciável logo em seguida, como se qualquer estágio que atingíssemos ali ainda fosse infinitamente menor do que tudo o que poderia e desejaria sentir no instante seguinte. Traz-me a sensação maior de atingir o clímax de minha força, de meu poder, de minha capacidade de superação, ao mesmo tempo em que me faz o ser mais vulnerável e dependente do teu amor, da paixão que me devora sem controle, e que me coloca inteirinho nas tuas mãos, como o mais frágil dos seres. Enquanto me passa a sensação de que sou eterno e impenetrável a qualquer mal, me promove em contraponto a sensação de que o mais leve abalo me destruiria se não mais pudesse ter tua carne entre meus dentes, tua lingua em minha boca, e tuas coxas entre as minhas.

Quando me vejo mergulhado em nossos corpos, sem limites definidos entre tua carne e a minha, me transporto a um paraíso de prazer, de plenitude, de alegria jamais sentida em qualquer outra circunstância. Minha paixão me salva, me protege, me resgata de todo passado, me abre as portas de um futuro em que me vejo inatingível, realizado, ao mesmo tempo em que sem limites e, portanto, jamais passível de ser completado por nada que ofereça ou que receba de ti... sempre infinitamente menor do que ainda acho que posso sentir no próximo toque, no próximo beijo, no próximo momento de amor.

Tudo isso me vem e começa apenas com o cheiro de tua pele, com essa senha irrecusável e só tua que abre todas as portas para o infinito do meu corpo, de minha alma, do ser que eu era até o momento em que adentro o portal desse universo misterioso e distante de qualquer entendimento, que é mergulhar na magia do teu corpo.

Obras publicadas: www.lojasingular.com.br

Luiz Roberto Bodstein
Enviado por Luiz Roberto Bodstein em 10/06/2007
Reeditado em 20/03/2012
Código do texto: T521420
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