Quem é John Galt?

Do fingimento à angústia que cala. Horrível e solitário perceber que antes onde havia encanto e ousadia restou medo e raiva. Envolta em tormenta ela se depara com seu reflexo e não se reconhece mais. Em alegres sonhos se imagina sentindo todo o afeto que merece. Quer manter os seus olhos fechados. Quer seguir desejando. Precisa se sentir amada. Nas batidas à porta do paraíso acorda. Puta, por ter saído de onde queria. Puta, foi o que disseram que era. No fundo sempre soube que não daria. Apostou. Errou feio. Se antes um abrigo, agora a luta para manter a lembrança daquilo que nunca foi. Em realidade, forjava uma visão de vida. Pensa que não tem refúgio simplesmente por ter imposto a si mesma as amarras que disseram teria que ter. Sempre pensou que o amor acontecesse pela retribuição da outrora carência disfarçada de cuidado e assim levou. A todos bradou é amor. Sim, eu sei é amor. Foi o que ouviram. Um anjo a viu. Um anjo em punição devida a puxou para perto de si. Anjo que se quisesse ter de volta a sua grandeza não poderia mostrar derradeiros destinos. Foi a sentença. Num emaranhado de correntes tinha esperança. Pertinho dela, tentou mostrá-la como é importante deixar-se brilhar. Como é importante deixar atitudes tolas de lado para não se alcançar mais os mesmos resultados. Disse bem baixinho que ainda não era a hora. Ela notou. Ela não o escutou. Ele insistiu pedindo que dissesse o que sentia. Queria que o absurdo feitiço fosse desfeito, fosse embora como cinzas ao vento. Ela o negou. Ele ouviu que não havia sentimento. Ele a negou. Nunca gostou de mentiras. Se não podia ser ela mesma, para ele não servia. Se ela não queria ser bonita, ele só queria a beleza. Havia mais para ele buscar. Afinal, era da sua condição de existência amar da forma que se é. Se pudesse lhe dizer, contaria que só existe um tipo de amor, o amor de paixão. Desencadeado pelo toque íntimo que faz o coração abraçar a vida. Iniciado pelo quê que destoa de tudo que já se viu, que faz baixar a guarda por te acolher do seu jeitinho e te faz corar por saber que encontrou o que tanto buscava. Ele é assim. Ele só ama de paixão. Se pudesse lhe dizer, falaria do quão tóxico é a tolerância rotulada de amor. Pessoas se subjugando, abrindo mão de quem são para compartilharem o vazio, com a pretensão de construírem uma redoma sustentada por nada. Mesquinha ilusão. Às paixões dizem não. Às paixões não abraçam. Às paixões machucam. Quando lhes dito vem, vem assim, eu quero assim, se recusam. Antes, abrem mão de si mesmas. Depois, já não amam mais. Nem poderiam, o amor só reconhece a si mesmo. Sob o jugo da morte, cobram um do outro atitudes que seriam as suas. Cada vez que acontece respiram menos. A cada vez, os anjos olham inquietos, pois eles nem sabem quem são. No vazio, confrontando o nada, é fácil ver várias pessoas e é difícil senti-las. Fácil de ver porque o deserto é inabitado. Difícil de sentir porque o chão foge àquela pista medíocre projetada. Se o anjo pudesse lhe contar diria que é fácil notá-lo, mas difícil percebê-lo e, se fosse para ir, não iria como quaisquer se vão. Iria ao seu modo, deixando sentimento doloroso de perda, pois ele é raro. Se o anjo ainda pudesse lhe dizer, mostraria que só ama quem se identifica, e só o faz quem sente prazer. Diria que puro é quem pensa nos orgasmos e que a sujeira vem da submissão e o grilho das amarras. Lembraria que a alegria vem do encanto e o recado é dado quando o coração bate mais forte.

O amor está presente, mas não está próximo. Anjo, até agora afastado, até agora zeloso, continua a cumprir a sua sentença.

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