Mágoas só para a noite

Eu não vou chorar

Porque ainda é dia.

E o sol, cansado, mais brilha.

As ondas batem forte na beira mar e os animais

procuram seus ninhos.

Os pescadores, uns chegam, outros saem.

As pessoas, algumas passeiam,

Outras voltam para o seu lar.

E, eu. Não vou chorar.

Não enquanto puder ver tanta vida.

Mas, a noite, a noite está próxima.

Quando o sol se por e a noite chegar,

As ondas ficarem calmas,

Os pássaros não mais cantarem,

Ninguém passar a beira mar.

Quando a noite chegar,

Talvez só a lua verá.

Mas, eu vou chorar.

Chorar este pranto.

As lágrimas se misturando com as ondas,

Minha insegurança com o escuro da noite,

Quando tudo for turvo:

Meus caminhos,

Minhas ideias,

Meus horizontes,

Igual a noite.

Eu vou chorar, chorar, chorar.

Deixar que recaia sobre mim tudo que me machuca, me maltrata e

Me faz gostar da noite, odiar a noite

E, esconder dentro da noite esta dor.

A noite torna-se uma poesia de desabafo.

Tão longa, pois demora a passar. Mas é do tamanho

Da minha dor.

Acabarei dormindo...

Quando acordar...

Talvez...

Estarei diferente.

Ao olhar para estas paisagens que não terão mais

As cores cinzentas da noite,

A luz, apagando o escuro da noite

Tirará toda má impressão que fiz da noite

O dia, por sua vez, sempre novo,

Trará para min outros sonhos...

Outras desilusões...

Então, procurarei novamente a noite,

Só para as mágoas.

Sônia Portugal
Enviado por Sônia Portugal em 08/11/2016
Código do texto: T5816690
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.