A Truculência das Águas
Noite dissimulada debaixo de um céu tenebroso
Trovões distantes, medianos depois rumorosos
Anunciando aos casebres um pé d’água volumoso
Era o último dia da quaresma em Altamira.
De repente a atmosfera agitou-se:
Rajadas de vento varreram a cidade enquanto
Nuvens suspeitas, sem pudor, desaguaram-se,
No adormecido igarapé Altamira, acordando-o.
Águas converteram-se numa aguaça selvagem
Metamorfoseando o pequeno rio.
E, este num fantasma de tamanha coragem
Que a cidade engoliu.
Tetos viraram chão. Famílias sem proteção.
Idosos sendo arrastados do turbilhão.
Animais escapando-se sobre objetos.
Outros não querendo deixar a habitação.
Crianças tiradas da cama. Frio e selvageria.
Mistérios. Fenômeno. Aviso. Anunciação.
Gritos e lamurias até então.
Estradas rompidas, trânsito cortado
Cada um dos habitantes, perplexo indignou-se
Observando o imenso Xingu transbordado
Páscoa, em que Altamira, na sua consciência, expatriou-se.
12 de abril, às vésperas de uma decisão
Represa-se um rio ou não?
Do céu veio um alerta
Para toda população
A natureza é divina e correta
Antes de modificá-la a função
Carece ouvir os profetas
Para livrar-se da maldição.