A Truculência das Águas

Noite dissimulada debaixo de um céu tenebroso

Trovões distantes, medianos depois rumorosos

Anunciando aos casebres um pé d’água volumoso

Era o último dia da quaresma em Altamira.

De repente a atmosfera agitou-se:

Rajadas de vento varreram a cidade enquanto

Nuvens suspeitas, sem pudor, desaguaram-se,

No adormecido igarapé Altamira, acordando-o.

Águas converteram-se numa aguaça selvagem

Metamorfoseando o pequeno rio.

E, este num fantasma de tamanha coragem

Que a cidade engoliu.

Tetos viraram chão. Famílias sem proteção.

Idosos sendo arrastados do turbilhão.

Animais escapando-se sobre objetos.

Outros não querendo deixar a habitação.

Crianças tiradas da cama. Frio e selvageria.

Mistérios. Fenômeno. Aviso. Anunciação.

Gritos e lamurias até então.

Estradas rompidas, trânsito cortado

Cada um dos habitantes, perplexo indignou-se

Observando o imenso Xingu transbordado

Páscoa, em que Altamira, na sua consciência, expatriou-se.

12 de abril, às vésperas de uma decisão

Represa-se um rio ou não?

Do céu veio um alerta

Para toda população

A natureza é divina e correta

Antes de modificá-la a função

Carece ouvir os profetas

Para livrar-se da maldição.

Sônia Portugal
Enviado por Sônia Portugal em 27/11/2016
Código do texto: T5836732
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.