Teatro da ilusão

Teatro da ilusão

O artista sai da coxia
Para se apresentar num palco rico em detalhes
Levanta sua cabeça de vastos cabelos
E cumprimenta cerimoniosamente o público
Faz gestos para chamar a atenção
Olha para um lado e para o outro
Respira e começa o monólogo
Ele não pode fugir o script
Que está bem decorado
Vai dissertar sobre a felicidade
Usando seu linguajar rebuscado
Com a voz firme para não titubear
Nem tampouco perdeu a concentração
O artista está atento
Solta a voz e começa a versejar
Sincroniza a sua respiração
Diante do silêncio na plateia
Que testemunha exuberante performance
O artista conhece cada palmo daquele chão
Não se intimida e segue a declamar
Pontua seu texto sem cometer exageros
Há quem pense que ele sente cansaço
Nada disso
Apenas incorpora o seu personagem
Um andarilho solitário
Que rasga as plagas por aí
Parecendo não ter perspectivas de continuar caminhando
Devido a sua avançada idade
Ele julga a sua própria competência
E quando as cortinas se fecham
O artista faz sua auto avaliação
Os aplausos antes ouvidos
Serviram de regozijo e emoção
Novos rumos serão tomados
Por quem representa no palco
Um andarilho desfigurado
Um pacato cidadão. (PV)
Paulo Vasconcellos
Enviado por Paulo Vasconcellos em 03/01/2018
Código do texto: T6216090
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